Folha de S. Paulo


Fumaça levou, no máximo, cinco minutos para tomar boate, diz Crea

Uma análise feita pelo Crea (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura) do Rio Grande do Sul apontou que a fumaça no incêndio da boate Kiss, em Santa Maria (a 323 km de Porto Alegre, levou apenas de quatro a cinco minutos para encobrir todo o ambiente e produziu uma "zona quente" que ia do teto a até um metro do solo.

Segundo os engenheiros, isso reduziu a chance de sobrevivência de quem estava no local e apenas quem tivesse tentado fugir rastejando teria boas possibilidades de se salvar. No total, 237 pessoas morreram.

Ainda de acordo com os técnicos, o ar-condicionado da casa noturna pode ter ajudado a espalhar a fumaça preta que intoxicou dezenas de pessoas. A entidade afirma que não havia um sistema de controle de fumaça, como aberturas para dispersá-la.

"Os erros foram se acumulando", diz o engenheiro Luiz Carlos Filho, que coordenou o estudo.

A equipe de engenheiros visitou o local em Santa Maria na última quinta-feira (31). Não teve autorização para recolher amostras e baseou grande parte das informações na análise de documentos. O relatório, feito para ajudar nas investigações policiais, contém uma foto do salão 1 da boate, com instalações quase intactas, incluindo as caixas de som.

O estudo aponta uma série de fatores que colaboraram para a tragédia, como a falta de iluminação no solo, a falha na comunicação entre os funcionários da casa e o posicionamento de obstáculos junto às rotas de fuga.

A entidade defende uma revisão nas normas de segurança para incêndio e uma unificação das regras municipais e estaduais. Diz que a "fragmentação" atual delas dificulta o cumprimento e a verificação. (FELIPE BÄCHTOLD)

O QUE PROVOCOU A TRAGÉDIA, SEGUNDO O CREA

CAUSAS DO INCÊNDIO
- Show pirotécnico sem autorização
- Revestimento acústico com material não certificado

FATORES QUE COLABORARAM PARA A TRAGÉDIA
- Falha dos extintores
- Falta de controle da fumaça (sem aberturas ou alarmes)
- Bloqueio dos indicadores da saída de emergência pela fumaça
- Falta de sinalização do piso
- Saídas de emergência mal dimensionadas
- Grades e obstáculos atrapalhando as rotas de fuga
- Funcionários sem treinamento e sem comunicadores

SUGESTÕES
- Unificar as normas existentes
- Tornar obrigatória a certificação de revestimentos
- Obrigar os estabelecimentos a instalar alarmes contra incêndio
- Discutir junto à ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) a criação de requisitos mínimos para segurança em locais que reúnem grande público

Fonte: Relatório do Crea-RS

INCÊNDIO

O incêndio aconteceu na madrugada de domingo (27) na boate Kiss, localizada no centro de Santa Maria (RS). O local é famoso por receber estudantes universitários. Ao todo, 237 pessoas morreram e outras 97 permanecem internadas.

O fogo teria começado na espuma de isolamento acústico da boate, após um integrante da banda Gurizada Fandangueira manipular um sinalizador. Faíscas atingiram o teto e iniciou as chamas. O guitarrista da banda afirmou que o extintor de incêndio não funcionou.

Sobreviventes relataram que, antes de perceberem o incêndio, os seguranças teriam impedido os jovens de saírem sem pagar.

Editoria de Arte/Folhapress

A maioria das vítimas morreu por asfixia durante a festa promovida por alunos da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria). Muitas foram encontradas amontoadas nos banheiros, por onde tentaram fugir do fogo.

No local, havia apenas uma uma porta, que funcionava como a única passagem de entrada e saída da boate. Bombeiros e sobreviventes quebraram a fachada da casa noturna a marretadas para retirar as pessoas.

A boate Kiss, com capacidade para até 691 pessoas, recebeu entre 900 e 1.000 no dia do incêndio, de acordo com a polícia.

A direção da boate Kiss divulgou nota afirmando que a casa estava dentro da normalidade e creditou o incêndio a uma "fatalidade".

Editoria de Arte/Folhapress
Conheça as principais falhas da tragédia que deixou mais de 200 mortos e 100 feridos em Santa Maria, no RS
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