Folha de S. Paulo


Santa Maria faz Argentina relembrar tragédia de 2004

"A tragédia no Brasil reabriu nossa ferida, voltei a sentir as cicatrizes que o fogo deixou na minha pele", diz Andrea Calderon, que tinha apenas 13 anos na noite da tragédia da boate República Cromañon, no bairro do Once, centro de Buenos Aires.

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Andrea, hoje estudante de publicidade, perdeu o pai e o irmão no incêndio de 30 de dezembro de 2004, no qual morreram 194 pessoas. "Lembro da explosão do sinalizador e, depois, bolinhas de fogo que caíam do teto em cima de nós. Aí veio a correria, o desespero."

Dias depois de internada para cuidar das queimaduras, recebeu, no hospital, a notícia de que os parentes não haviam resistido. "É uma dor sem tamanho, da qual só se sai aos poucos, com ajuda de profissionais e esforço."

Hoje, Andrea mantém uma página no Facebook ("Yo no me Olvido de Todos los Chicos de Cromañon) e integra um grupo de jovens que mantêm blogs e sites sobre a tragédia.

Diante da boate, hoje fechada, sobreviventes levantaram um memorial improvisado.

Andrea acrescenta: "Queria avisar os brasileiros que mais do que achar culpados é preciso assistir aos que sobreviveram e tentar impedir que se repitam tragédias como essa".

As semelhanças entre os dois casos estão sendo bastante lembradas pela mídia da Argentina. Grupos de familiares das vítimas têm se manifestado em solidariedade ao Brasil.

A tragédia argentina causou uma série de medidas de restrição e controle das casas noturnas. O "Efeito Cromañon" fez com que fossem mais regulados a quantidade de público permitida, os horários dos concertos, as condições de segurança e os requisitos para conceder licenças.

Foram presos os empresários responsáveis pela casa e os membros da banda de rock Callejeros, responsáveis pelos sinalizadores que deram início ao incêndio. Um processo de impeachment levou o prefeito, Aníbal Ibarra, a perder o cargo.


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