Folha de S. Paulo


Condenado pelo incêndio de circo em Niterói foi morto com 13 tiros

Uma vingança tramada após uma demissão levou à morte 503 pessoas, a maioria delas crianças, há pouco mais de meio século em Niterói. Três homens foram condenados pelo incêndio do Gran Circo Norte-Americano, em dezembro de 1961 --o de maior número de vítimas no Brasil.

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Contratado para ajudar na montagem da lona, Adilson Marcelino Alves, o Dequinha, foi demitido dois dias depois, quando se descobriu que tinha antecedentes criminais.

No dia da estreia do espetáculo, 15 de dezembro de 1961, tentou entrar de graça, mas foi impedido.

Voltou dois dias depois, um domingo, com dois cúmplices, Valter Rosa dos Santos, o Bigode, e José dos Santos, o Pardal, e alguns recipientes de gasolina. O trio ateou fogo na lona quando o espetáculo chegava ao fim.

Quase um ano depois, os três foram condenados. Dequinha confessou o crime e foi condenado a 16 anos de prisão, no final de outubro de 1962.

Sete anos depois, fugiu da Penitenciária Vieira Ferreira Neto, em Niterói. Foi encontrado morto com 13 tiros no alto do morro Boa Vista, na mesma cidade, próximo a torres de transmissão. A polícia não identificou o autor do crime.

Bigode também foi condenado a 16 anos de prisão. Cumpriu 13 anos da pena e foi solto, em 1975, em regime de liberdade vigiada. Pardal foi condenado a 14 anos de prisão e foi solto após cumprir a pena.

Autor do livro "O Espetáculo Mais Triste da Terra - O incêndio do Gran Circo Norte-Americano", o jornalista do jornal "O Globo" Mauro Ventura, conta que em suas pesquisas para o livro não conseguiu encontrar Pardal e Bigode. Após serem soltos, os dois desapareceram.

Segundo Ventura, não houve nenhuma ação judicial contra os donos do circo, mesmo após a polícia confirmar que não havia saída de emergência ou extintores de incêndio no circo.

"Ninguém processou o circo. Muita gente achava que ele era americano por causa do nome, mas era brasileiro. Na época não havia essa cultura [de responsabilidade civil], sequer se formou uma associação de vítimas do incêndio", conta.

INCÊNDIO NA KISS

Um incêndio aconteceu na madrugada de domingo (27) na boate Kiss, localizada no centro de Santa Maria (RS). O local é famoso por receber estudantes universitários. Ao todo, 234 pessoas morreram e outras 118 permanecem internadas em hospitais da cidade e de Porto Alegre.

O fogo teria começado na espuma de isolamento acústico da boate, após um integrante da banda Gurizada Fandangueira manipular um sinalizador. Faíscas atingiram o teto e iniciou as chamas. O guitarrista da banda afirmou que o extintor de incêndio não funcionou.

Sobreviventes relataram que, antes de perceberem o incêndio, os seguranças teriam impedido os jovens de saírem sem pagar.

Editoria de Arte/Folhapress

A grande maioria das vítimas do incêndio na festa, promovida por alunos da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), morreu asfixiada. Muitas foram encontradas amontoadas nos banheiros, por onde tentaram fugir do fogo.

No local, havia apenas uma uma porta, que funcionava como a única passagem de entrada e saída da boate. Bombeiros e sobreviventes quebraram a fachada da casa noturna a marretadas para retirar as pessoas.

A boate Kiss, com capacidade para até 691 pessoas, recebeu entre 900 e 1.000 no dia do incêndio, de acordo com a polícia.

A cidade de Santa Maria abriga alunos de faculdades particulares e da UFSM, muitos de outros Estados. Entre os mortos, estão 113 estudantes da UFSM.

Até a tarde de ontem, quatro pessoas haviam sido presas --dois donos da casa noturna e dois integrantes da banda. O delegado Sandro Meiner afirmou que "as prisões são para possibilitar as investigações dos fatos em todas as suas nuances."

A direção da boate Kiss divulgou nota afirmando que a casa estava dentro da normalidade e creditou o incêndio a uma "fatalidade".

Editoria de Arte/Folhapress

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