Folha de S. Paulo


Com proibição à doula, mãe cogita dispensar pai na hora do parto

Grávida de nove meses, uma professora de 34 anos, que pediu para ter seu nome preservado, cogita abrir mão do marido na sala de parto caso haja restrição à sua doula --mulheres com experiência em maternidade que dão assistência a grávidas antes, durante e após o parto. A medida vem recebendo críticas de gestantes.

Duas grandes maternidades de São Paulo, Santa Joana e Pro Matre Paulista decidiram restringir a entrada de doulas. A nova norma permite apenas uma pessoa na sala de parto. Assim, grávidas que entraram ontem em contato com os hospitais, que têm a mesma direção, foram informadas de que terão de abrir mão da presença do marido.

A mudança teve início na segunda-feira. Segundo o grupo que controla os dois hospitais, a medida "visa manter os menores índices de infecção hospitalar das maternidades, priorizando a saúde da mãe e do bebê".

A professora terá o segundo filho na Pro Matre e pretende estar ao lado da doula para conseguir o parto normal. Na primeira gestação, ela teve uma cesárea eletiva (agendada).

"Ainda tenho esperança de conseguir a doula, pois tenho autorização enviada [antes do comunicado] por e-mail pelo hospital", diz. "Só que na hora do meu parto será uma loteria. Era para eu estar tranquila, mas estou uma pilha sem saber como será meu parto."

Para Rosiane Mattar, da Sogesp (Associação de Ginecologia e Obstetrícia de São Paulo) e professora da Unifesp, não há consenso sobre as doulas. A aceitação depende de como cada médico trabalha.

Em seu caso, as experiências foram positivas, principalmente na ajuda à respiração da parturiente. "Em termos médicos, não aumenta o risco de infecção, não atrapalha em nada", diz, lembrando que todos devem adotar as medidas padrões de assepsia.

Mariana de Mesquita, 33, da Adosp (Associação de Doulas de São Paulo), afirma que o motivo da restrição é que os hospitais querem a cesárea, já que, com a atuação da doula, há maior chance de o parto ser normal --mais imprevisível.

"Querem restringir uma profissional que orienta a mulher e melhora o atendimento", diz. "Doula não é acompanhante familiar, faz parte da equipe multidisciplinar do parto."

A obstetriz Ana Cristina Duarte, 47, critica a decisão dos hospitais. "Eles têm taxas altíssimas de cesáreas agendadas, que são mais lucrativas. Nada justifica proibir doulas."

Até outubro, segundo o Ministério da Saúde, foram feitos 9.859 partos na Pro Matre e 12.541 no Santa Joana, mais de 90% deles cesáreas.

Outros grandes hospitais paulistanos têm políticas distintas para doulas. O Santa Catarina permite que elas acompanhem as mães no parto, além do marido. No São Luiz, são admitidas desde que cadastradas previamente. Já no Albert Einstein, são liberadas apenas no pré-parto e não podem ir ao centro obstétrico.
A Adosp organiza um protesto contra a restrição, no dia 3. Estimativas apontam que há 2.000 doulas no país.

OUTRO LADO

O Grupo Santa Joana, que controla as maternidades Santa Joana e Pro Matre Paulista, em São Paulo, informou, por meio de nota, que não proíbe a entrada de doulas na sala do parto.

Disse que, desde a segunda-feira passada, permite apenas a entrada de um acompanhante no centro obstétrico, ou seja, a gestante poderá escolher entre a doula e o pai do bebê, por exemplo.

Segundo o grupo, a medida "visa manter os menores índices de infecção hospitalar das maternidades, priorizando a saúde da mãe e do bebê".

O texto informa ainda que o índice de infeção hospitalar da instituição é 0,3%, "o que é baixíssimo se comparado à média nacional de 2,8%, isto é, nove vezes menor que a média nacional".

Marcelo Justo/Folhapress
Grávida de nove meses diz que cogita abrir mão do marido na hora do parto para ter a presença da doula
Grávida de nove meses diz que cogita abrir mão do marido na hora do parto para ter a presença da doula

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