Folha de S. Paulo


Com ingressos esgotados, edição paulistana do Fartura agrada público

A primeira edição paulistana do festival Fartura, realizada durante este final de semana no Jockey Club, caiu no gosto do público da cidade.

A organização do evento informou que vendeu todos os 8.000 ingressos disponibilizados ao público durante os dois dias do festival. Ao todo, foram servidos cerca de 20 mil pratos, totalizando oito toneladas de alimentos.

O sucesso foi tanto que houve inclusive relatos de cambistas nas imediações do Jockey, que revendiam os ingressos, que custavam R$ 20, a R$ 40.

O festival, que teve pela primeira vez representantes da culinária de todos os Estados brasileiros, também contou com uma programação musical que incluiu uma participação da cantora Elza Soares, no final do primeiro dia do evento.

DOMINGO

No segundo dia do festival, os ingressos para a entrada no Jockey esgotaram-se rapidamente, por volta das 14h30. Antes do meio-dia, horário de abertura do evento, o trânsito parava na rua que dá para o estacionamento do portão onde estão instaladas as barraquinhas e palcos.

No caminho, flanelinhas avisam que cobram o mesmo que o estacionamento do Jockey (R$ 30).

O contador Danili Viel, 25, é um dos que esperam para comprar ingresso. Ele veio de Sertãozinho para passar o fim de semana em São Paulo, e resolveu aproveitar o programa gastronômico-cultural.

"Não esperava tanta fila, mas também, não me programei. Em São Paulo tudo fica lotado", diz.

Quem se beneficiou da voracidade do público paulistano foi a chef Ariani Malouf, do Mahalo, de Cuiabá. O espaço da chef do restaurante mato-grossense foi um dos mais disputados ao longo dos dois dias do festival.

Depois de vender 400 das 500 porções preparadas para o festival no primeiro dia do evento, Maluf teve que alterar a sua receita no segundo dia do Fartura, substituindo a costela original por filet mignon.

A alteração não desagradou ao público e todas as porções foram vendidas. Vanda Rodrigues diz ter esperado uma hora na fila do Mahalo para provar o pê-efe e explicou um motivo inusitado para a preferência. "É o prato maiorzinho. Comi o arroz cremoso [do Picuí, de Maceió], estava uma delícia, mas não matou a fome", disse.

GELADEIRA VAZIA

A alta procura do público acabou se refletindo nos cardápios oferecidos pelos expositores. O chef Léo Paixão, do Glouton, também foi forçado a bolar um "novo prato". A barriga de porco ao molho teriaki de cachaça virou churrasco suíno, com espetinhos feitos na brasa - ontem ele vendeu as 500 porções que havia preparado para o fim de semana. Os comensais esperam cerca de 25 minutos para serem servidos em sua barraquinha.

No food truck do chef Lucas Corazza, só restou chocolate quente com bergamota. Foram vendidos todos os 400 doces preparados para o fim de semana de evento.

Quem tem restaurante em São Paulo conseguiu recorrer a suas geladeiras para chegar ao evento hoje de estoques renovados. Angelita Gonzaga, do Arimbá, assou os rojões que tinha lá para trazer ao Fartura.

No espaço dos produtores, o primeiro item a acabar foi o queijo da Serra da Canastra, que teve cem unidades vendidas no Fartura. "Acabou muito rápido. Vendemos quase tudo no primeiro dia", diz Magno Carvalho Ferreira, da Aprocan (Associação dos Produtores da Canastra).

DEGUSTAÇÃO

Entre os pratos exóticos que fizeram sucesso no último dia do Fartura, nenhum se destacou mais do que a carne de tartaruga.

Picado na ponta da faca, o peito do animal foi servido com farofa. A receita é da cozinheira Solange Sussuarana, 63, que comanda o restaurante Café Aymoré, em Macapá (AP).

A palestra da chef despertou a curiosidade do público. Quem não conseguiu lugar na plateia, com 40 lugares, observou do lado de fora a preparação da receita. "Fiquei interessada porque é uma carne muito exótica. É uma pena que não vou conseguir experimentar daqui", diz a médica Claudini Cerqueira, 33.

Na plateia, um dos mais interessados era Eduardo Prado, 14, ex-participante do programa Master Chef Junior. Ele subiu ao palco duas vezes para fazer perguntas sobre o preparo e olhar o cozimento da carne na panela.

"O sabor da tartaruga é único, nunca comi nada igual", afirma o menino. "Achei gostoso e muito bem temperado."

PREPARO

Uma receita mais tradicional também caiu nas graças dos visitantes. O cheiro dos cookies preparados pelos participantes da aula comandada pelo confeiteiro Lucas Corazza escapava dos fornos e invadia os corredores do evento.

A receita dos biscoitinhos tipicamente americanos foi escolhida por Corazza para apresentar três tipos de chocolate de origem brasileira - ele usou versões branca, ao leite e meio amarga com 63% de cacau. Na mais disputada entre as atividades do local, havia gente em pé dentro e fora do espaço. Elanis Moraes, de Florianópolis, era a primeira da fila e aguardou mais de duas horas para conseguir lugar em uma das bancadas.

Chamada Especial Fartura

MÚSICA

Neste domingo, a programação musical da primeira edição paulistana do festival Fartura teve mineiros, paulistas e uma revelação cearense..

O violinista mineiro Thiago Delgado abriu a programação no palco principal. Ele apresentou músicas de seu último álbum, "Viamundo" acompanhado por bateria, baixo e teclado.

Na sequência, o grupo Lenis Rino levou ao Jockey Club sua "descontrução" do álbum "Fatal", de Gal Costa, show que estreou em Belo Horizonte.

Às 15h30, horário de pico nas barracas de comida, quando os ingressos para o festival já estavam encerrados, a cearense Lorena Nunes apresentou um repertório dançante, indo do forró a Tim Maia.

Lorena foi descoberta pela equipe do Fartura quando o festival foi realizado no Ceará. Impressionados pela voz (incrível) e pelo carisma da moça, os curadores artísticos resolveram incluí-la na edição paulistana.

Na parte de artes cênicas, o destaque foi o teatro de bonecos do Grupo Sobrevento. A história girava em torna da produção artesanal de farinha e foi acompanhada por um trio de forró "raiz".

A programação artística do Fartura foi encerrada com o show do paulistano Curumim.

Ao lado de Zé Nigro, Lucas Martins e André Lima, Curumim interpretou clássicos de Steve Wonder, como "Superstition", "Sunshine of my Life" e "I Just Call to Say I Love You".

Fez um show delícia para o público que permaneceu após a folia gastronômica. A fartura se encerrou com o povo bebendo vinho e cantando junto com o baterista que só ligaram para dizer "I Love You".

(MAGÊ FLORES, IARA BIDERMAN, JÚLIA ZAREMBA, MARÍLIA MIRAGAIA, CAROLINA MUNIZ)


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