No pacote de revitalização do hotel Maksoud Plaza, cuja época áurea foram os anos 1980 -imaginemos um show de Frank Sinatra ali, que beleza-, está a abertura do restaurante 150 Maksoud.
Pois bem. Foi uma mudança efetiva se considerarmos os novos ares do cardápio. Seguem intocados, porém, os preços altos, o ambiente démodé, aberto para o hall do hotel, e o serviço caótico.
Afora umas mesmices aqui e acolá (filé-mignon com batatas, petit gâteau e seus fiéis seguidores), surgem receitas autorais. Juca Duarte, 31, explicita o aprendizado que acumulou em suas passagens por cozinhas vanguardistas como a do Clos (antes Clos de Tapas), em São Paulo, e a de Quique Dacosta, espanhol três-estrelas "Michelin".
Para a salada de atum confit, presunto cru, tangerina e vinagrete de pistache (R$ 55), Duarte submete o peixe a uma cocção a vácuo em baixa temperatura (70ºC), para que ele absorva a potência de sabor e aroma dos temperos -e dá certo. Há um senão: atum e presunto vêm chafurdados em um monte de folhas, é desproporcional.
Duarte também faz uso de uma parafernália moderna para defumar os nacos de berinjela (excessivamente perfumados) servidos na companhia de lagostins em ótimo ponto -levemente chapeados e quase crus por dentro (R$ 49)-, envolvidos em um molho de missô adocicado.
Quiçá o polvo com purê de castanha-do-pará e molho denso e pujante à base de pequi, limão-siciliano e coentro fresco (R$ 87) seja o prato mais simbólico da nova safra.
Ainda que falte acertar a mão no sal, exagerado, o purê sai-se bem (pura castanha) e há coragem no ponto do polvo. As pontas dos tentáculos, tostadas, são crocantes, e seu interior, macio, mas não em demasia -conservam-se as fibras que lhe são características e boas de morder.
A ousadia, no entanto, pode soar incômoda vez ou outra. É o caso da sobremesa apoiada na combinação pouco ortodoxa de coco, curry e chocolate, inspirada nos feitos de Ferran Adrià.
O bolo de pão-de-ló embebido em leite de coco e curry, com a fruta explorada em outras texturas (in natura, caramelizada e cocada cremosa) e sorvete de cacau, carrega ainda rúcula, que se propõe a trazer certo frescor e picância -mas não cola (R$ 25).
E, bem, há uma sequência de erros elementares: o carré de cordeiro (R$ 73), apesar do miolo rosado, é seco e de superfície acinzentada. O pappardelle com ragu de costela (R$ 62) chega à mesa grudado (como pode?). Fazem bom contraponto a costela desmanchando, de sabor intenso, e os tomates pedaçudos, que dão ar rústico ao prato.
Fuja do bufê no almoço (R$ 55): nada funciona. Bife à parmigiana esturricado, com queijo rígido; robalo esquecido no réchaud, coitado (dele e dos clientes); legumes idem, molengas e malcuidados.
O serviço é um deus-nos-acuda. Lento, atrapalhado e desavisado -difícil arrancar informações sobre os pratos e vinhos. Ok, a casa ainda está engrenando, mas cobra-se alto (entradas até R$ 55, pratos até R$ 99, sobremesas por R$ 29). Há um descompasso.