Quem acompanhou a última edição do "Master Chef Brasil" deve se lembrar da aparência desmantelada da sobremesa que eliminou o Capitão Hamilton do reality. Era uma maçaroca rosa e branca que consistia basicamente de biscoito de macadâmia, calda de morango, chantilly e nozes por cima.
O desastre culinário do cosplay de cozinheiro parecia dar ainda mais moral à empáfia gastronômica, da qual passamos a nos valer para julgar os mais variados pratos –mesmo aqueles apresentados apenas pela TV. Como desculpa para a aparente vergonha em rede nacional, Hamilton, por sua vez, se limitou a dizer que a cara da comida estava péssima, mas o gosto estava ótimo.
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Yakissobra é bom, o segredo é não tirar foto |
Antes de Hamilton, a já popular onda dos programas sobre comida na TV brasileira –você pode substituir a Bela Gil por qualquer outro apresentador do GNT– parece ter criado o ambiente perfeito para a revoada dos foodies, pessoas que gastam boa parte de seus salários na "arte de comer" e retratam esses momentos, incansavelmente, nas mais variadas redes. E antes de seguir com esse texto, longe de mim dizer que comer bem e fotografar o rango para o Instagram seja algo ruim. Só não é real o tempo inteiro, sabe? Ou vai dizer que você nunca comeu amarradão aquela lasanha congelada que comprou no supermercado?
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É por isso que gostaria de pedir para você olhar para dentro da sua cozinha pouco equipada, sua geladeira com uma cebola bolorenta e para a sua atividade alimentar pouco atraente. A vida é feita muito mais de miojos, misto-quentes, quentinhas e refeições do gênero do que de foie gras. Infelizmente. Isso porque, assim como dormir e cagar, se alimentar é uma das nossas necessidades mais básicas. E para além do @Fabmoon, o engenheiro e foodie convertido a chef, que já bateu metas de jantar em, sei lá, 15 lugares diferentes em uma mesma noite, a vida é muito mais feijão-com-arroz do que se imagina.
Se alimentar, aliás, está muito mais próximo do que nos mostra o "Comidas Feia", a página do Facebook que nos lembra a humanidade & da imperfeição da nossa comida de cada dia. Comer também é ordinário, é mais um daqueles momentos dos mais comezinhos em que você vai ao self e se serve de feijoada e estrogonofe simplesmente para matar a fome. E aí, meu amigo, vale tudo.
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Até pizza de feijão |
Olhando a página, por exemplo, me lembrei daquele dia, da larica, quando tracei brócolis cozido no vapor com um delicioso ketchup.
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Comidas feia saudável. |
Ou daquele outro dia, VR no fim do mês, quentinha na mochila do trabalho e uma maçaroca de frango e farofa no prato escoltada por uma salada murcha.
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Vai dizer que nunca comeu algo assim? |
Teve também aquele dia em que queria impressionar meu namorado e tentei fazer em casa uma tortilla que gosto de comer num restaurante espanhol. Ficou igual esse macarrão com tinta de lula da foto abaixo:
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+ maravilhas do Comidas Feia |
E quem nunca cometeu o pecado do irresistível macarrão com salsicha?
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+ do melhor do Comidas Feia |
Então, da próxima vez que for tirar foto de comida para o seu Instagram com a imagem da costela de carneiro cozida em baixa temperatura, lembre-se que sempre haverá uma segunda-feira, aquele dia em que você acorda pensando no virado à paulista da hora do almoço. Arroz, tutu de feijão, bisteca, linguiça, ovo e couve. É feito, pode crer. É zero gourmet, graças a Deus. E é, sobretudo, bom demais.
Leia a íntegra no site da Vice.