Folha de S. Paulo


Jovens criam aparelho para produzir larvas comestíveis em casa

Dieter Nagl/AFP
TO GO WITH AFP STORY BY SIMON STURDEE - This picture taken on January 7, 2016 in Vienna shows a mealworms salade from the
Salada com larvas criadas em aparelho para produção caseira, de jovens austríacas

"São consumidos como qualquer carne: cozidos, fritos, em hambúrgueres ou em molho", assegura Katharina Unger, uma austríaca, coinventora de um aparelho para criar larvas de farinha em casa, cujo consumo recomenda a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), em prol da segurança alimentar.

Batizado de "colmeia de mesa", o aparelho pode produzir até 500 gramas de larvas por semana. Seu funcionamento é simples: se introduzem as larvas em sua parte superior, onde crescem e se reproduzem, e uma vez que tenham alcançado os três centímetros, caem automaticamente em um compartimento em que são "colhidos".

"Depois são levados ao congelador e podem ser consumidos como qualquer carne", afirma Unger, de 25 anos, que desenvolveu o conceito com sua sócia Julia Kaisinger, de 28.

As duas jovens, que estiveram na China supervisionando a fabricação do produto, captaram quase 150.000 euros com financiamento coletivo e já pré-venderam 200 aparelhos a 459 euros cada.

Cerca de 2 bilhões de pessoas, principalmente na Ásia, África e América do Sul, consomem diariamente insetos, um hábito que a Organização da ONU para Alimentação e Agricultura considera benéfico para a segurança alimentar.

Dieter Nagl/AFP
CORRECTION - TO GO WITH AFP STORY BY SIMON STURDEE - Katharina Unger (R) and Julia Kaisinger (L) are pictured with food from their
Katharina Unger (à dir.) e Julia Kaisinger (à esq.) com porções de receita que leva larva caseira

Na Europa, ainda que praticada pela Antiguidade por romanos e gregos –Aristóteles confessa em seus escritos ser um apaixonado por larvas de cigarras–, a entomofagia caiu em segredo e foi há não muito tempo que começou a ganhar terreno, com novas lojas e restaurantes, em alta, propondo, em suas receitas, larvas, grilos e até escorpiões fritos.

GOSTO DE NOZES E COGUMELO

Mas até agora ninguém havia pensado em criar larvas comestíveis em sua própria cozinha, defende Unger.

"Cresci em uma granja onde o normal era produzir a própria comida. Ao chegar à cidade, busquei continuar produzindo alimentos saudáveis, de forma duradoura", explica.

Ao ser alimentado com restos orgânicos, os larvas de farinha contribuem ao reduzir o volume de resíduos, como os minhocários. Mas sobretudo, segundo Unger, são uma alternativa muito ecológica para a carne.

"Comparando com a quantidade equivalente de carne, a produção requer somente um quarto de alimento (para os animais) e cerca de 10% da superfície", afirma.

Além disso, os larvas de farinha contém as mesmas proteínas da carne bovina, mais vitaminas B12 que os ovos e mais fibra do que o brócolis.

A FAO informou em um relatório, em 2013, sobre o "enorme potencial" alimentício que os insetos têm, não só para os homens, como para o gado.

Mas, apesar de suas vantagens, muitos admitem sua aversão à ideia de criar larvas e, sobretudo, a comê-los.

"A primeira etapa é esquecer que estamos comendo um inseto. Depois, nos damos conta de que não está tão mal", afirma a crítica gastronômica Alexandra Palla, cujo blog é muito lido na Áustria.

Dieter Nagl/AFP
CORRECTION - TO GO WITH AFP STORY BY SIMON STURDEE - Katharina Unger (L) and Julia Kaisinger (R) are pictured with their
Katharina Unger e Julia Kaisinger com o aparelho para a produção de larvas

O gosto não é "muito espetacular", lembra "nozes ou cogumelos", afirma a especialista, entrevistada pela AFP durante uma degustação de salada grega com larvas, almôndegas de carne com larvas e pastel de chocolate, também com larvas, organizada pela start-up das duas jovens em Viena.

Julia Kaisinger está convencida de que "no futuro, todo o mundo o quase todo o mundo comerá insetos". Atualmente, "as pessoas consomem meio quilo de insetos ao ano sem saber, já presentes no chocolate ou em sucos de frutas", afirma.

Sem contar os aficionados por alguns queijos, como a mimolette francesa ou o casu marzu italiano, que contêm ácaros e larvas, respectivamente.


Endereço da página: