Folha de S. Paulo


Brasil disputa lugar no mercado de chocolate de alta qualidade

Yasuyoshi Chiba - 9.dez.2015/AFP
Chocolate bars are displayed at Aquim shop in Rio de Janeiro, Brazil, on December 9, 2015. The chocolate is produced by Brazilian cacao company Mendoa, settled in Salvador, Bahia state, which was among the 50 best chocolate makers in the world in the last Paris Chocolate Show. AFP PHOTO / YASUYOSHI CHIBA ORG XMIT: YCH005
Barras de chocolate Mendoá, dispostas em prateleiras no Rio de Janeiro

Quinto produtor mundial de cacau, o Brasil estava ausente do mercado de chocolates de alta qualidade até pouco tempo atrás. Mas um grupo de pioneiros luta por um lugar neste saboroso universo, com barras de cacau puro, aromatizadas com café ou recheadas com frutas amazônicas.

A empresa Mendoá, localizada no sul de Salvador, por exemplo, ficou entre os 50 "melhores chocolates do mundo", no último Salão de Paris.

"Temos que deixar de unicamente exportar matéria-prima. Somos capazes de vender um produto final de alta qualidade", assegura Rodrigo Aquim, presidente da empresa que leva seu sobrenome.

O tablete que desembala com orgulho, gravado com estampas assimétricas, fez o gosto da rainha da Inglaterra e da família imperial do Japão.

O sabor de seu produto evolui de acordo com as "colheitas": notas frutadas para o 75% produzido em 2014 ou mais intensas para o de 2015.

"Todo o cacau da barra vem de uma só parcela da plantação. Portanto, a quantidade de chuva ou de sol do ano influencia no gosto do chocolate", explica Alessandro Michelon, representante da marca.

EVOLUÇÃO DO GOSTO

Michelon mostra as fotos da produção: primeiro a sombra de uma selva tropical, sob a qual crescem os pés de cacau. Logo, os barris de aço inoxidável onde se fermentam os frutos, cobertos ainda por polpa, antes de secarem no sol da Bahia.

Imortalizada na obra de Jorge Amado, a produção brasileira de cacau é uma das mais importantes do mundo –e cerca de 90% dela é exportado. As 780.000 toneladas de chocolate nacional, no entanto, são quase totalmente devoradas no país.

A maioria dos brasileiros prefere o chocolate com leite, açucarado e aromatizado. Um quadrado bem negro, com 80% de cacau, pode provocar caretas.

"O paladar dos consumidores brasileiros evolui lentamente. Mas com o aumento do poder de compra, sobretudo, eles se voltam a produtos gourmet, como vinhos e queijos... E o chocolate de alta qualidade", destaca Caio Tomazelli, da Abicab (Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados).

COMPETIR COM A SUÍÇA

A fabricação de chocolates "premium" é ainda modesta. Acumulando algumas pequenas marcas, como Amma e Montanhês, e cadeias de lojas como Kopenhagen ou Cacao Show, alcança a 7% da produção nacional.

Mas os produtos de alta qualidade ganham compradores a cada ano, enquanto as vendas de chocolate internacional caem no país.

Segundo a Abicab, o Brasil –terceiro produtor mundial de chocolate e quarto consumidor mundial– possui os ingredientes para competir um dia com a Suíça ou a Bélgica.

"Produzimos todas as matérias-primas no nosso território: o cacau, o açúcar e o leite. Começamos a dominar as tecnologias e a formar chefs em nossas escolas de gastronomia", disse Caio Tomazelli.

"Quando uma criança sonha com um chocolate, deve sonhar com uma selva tropical, não com uma vaca nas montanhas suíças", disse sorrindo Rodrigo Aquim, que exporta sobretudo para a Grã Bretanha e Portugal.

O exercício segue sendo arriscado. Com suas 12 toneladas de produção anual, o ramo "chocolate" da empresa familiar acaba de obter equilíbrio em suas contas, depois de sete anos em atividade no Brasil.


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