Folha de S. Paulo


Franceses criam guia gastronômico em oposição à lista dos 50 melhores

Leon Neal/AFP
Spanish restaurant El Celler de Can Roca owners and brothers (L-R) Joan, Josep and Jordi Roca receive the award for best restaurant during the World's 50 Best Restaurant Awards in London on June 1, 2015. AFP PHOTO / LEON NEAL ORG XMIT: 2081
Joan, Josep e Jordi Roca, do El Celler de Can Roca, primeiro na lista dos 50 melhores restaurantes

Japão, França e Estados Unidos são os países mais representados no guia "Mil mesas de exceção", a resposta de Paris à classificação britânica dos 50 melhores restaurantes, em que a cozinha gaulesa está pouco presente.

No total, restaurantes de cerca de 40 países figuram na lista, que compila os resultados de guias gastronômicos internacionais. Entre os cem primeiros, há cerca de 30 franceses, mas a Ásia também se sai muito bem, segundo as primeiras revelações.

O guia será apresentado oficialmente em 17 de dezembro na sede do ministério francês de Relações Exteriores, em Paris.

Trata-se de uma proposta do Conselho de Promoção do Turismo Francês, aprovada em junho pelo chefe da diplomacia, Laurent Fabius.

Mas o guia "não recebeu nem um centavo de dinheiro público", assegura o embaixador Philippe Faure, que lidera a iniciativa apoiada por uma dezena de empresas, como Moët Hennessy e Nestlé France.

A ideia nasceu em reação à crescente influência da classificação dos "50 melhores restaurantes do mundo", promovida pelo grupo britânico de mídia William Reed e encabeçada neste ano pelo restaurante espanhol "El Celler de Can Roca".

Na França, orgulhosa de sua gastronomia, classificada Patrimônio Mundial da Unesco, o guia é criticado por sua metodologia –considerada obscura–, e denunciada como um instrumento de "french bashing" (menosprezo ao francês), posto que só tem, em sua última edição, cinco restaurantes gauleses e nenhum entre os dez primeiros.

"Estamos em uma época na qual as pessoas gostam de classificações", disse Faure.

O método da lista consiste em compilar e dividir notas atribuídas a milhares de restaurantes em cerca de 200 guias gastronômicos (Michelin, Gault&Millau e Zagat, por exemplo), sites participativos (TripAdvisor, OpenTable), listas (50 Melhores Restaurantes) e críticas na imprensa.

Estas apreciações foram confrontadas com a opinião de cerca de 3.000 chefs sobre a confiabilidade dos guias compilados. Um grupo de jornalistas e "experts internacionais" participaram também da elaboração, de acordo com Faure, presidente da Atout France, uma instituição de promoção turística da França.

UM GUIA NADA 'GASTRONACIONALISTA'

Os critérios de avaliação são a qualidade das refeições, a recepção e o serviço, o ambiente e a adega.

Os resultados detalhados estão sendo mantidos em sigilo, mas os organizadores adiantaram que entre os mil restaurantes selecionados, os países mais representados são Japão (mais de 120 locais), França (117) e Estados Unidos (115). China, Espanha, Alemanha e Itália seguem com um pouco mais de 50 restaurantes cada um.

Os promotores do guia rechaçaram qualquer "gastronacionalismo". "São 117 locais em mais de mil, não se pode dizer que seja uma lista francesa!", defende Faure.

Para o chef francês Alain Ducasse, que participou do projeto, a França "não pode ficar passiva na cena midiática-culinária interplanetária".

Mauro Colagreco, chef argentino de 39 anos, a frente do restaurante Mirazur, no sudeste da França (classificado como número 11 nos "50 Melhores Restaurantes" e com duas estrelas "Michelin"), se mostra crítico à iniciativa: "Não acredito que haja sentido em existir outro guia, com essa ideia de dizer quem é o melhor que o outro. Não há um melhor, mas cozinhas diferentes".


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