Entrar no Jamile é uma surpresa: seu salão clean e moderno contrasta com a antiga vizinhança do Bexiga –as cantinas familiares com décadas de existência, a padaria centenária com embutidos e pães à mostra.
Dois nomes pops sustentam o projeto: Alberto Hiar, o Turco Loco, da grife de roupas Cavalera, e o chef Henrique Fogaça, jurado do "MasterChef" e à frente do Sal, que presta consultoria à casa.
A cozinha do Jamile, aliás, está em explícito diálogo com a do Sal –e de lá traz algumas marcas registradas, tais quais as porções generosas e a presença de ingredientes brasileiros, em receitas variadas e contemporâneas.
No ceviche de peixe-prego notam-se cores e sabores vibrantes (R$ 30). O peixe é combinado com tomate, cebola-roxa e pimentão-amarelo; limão, gengibre e hortelã lhe dão acidez e frescor.
Também surge em visual instigante o fettuccine negro, feito na casa com tinta de lula. Embalado em potente caldo à base de cabeça e casca de camarão, traz os crustáceos, graúdos e tenros, mais lula e polvo (R$ 72), este podia estar mais firme -falta certa ousadia no ponto.
Bem, vale a menção de que ainda é preciso equilibrar o uso do sal –este ingrediente que Fogaça tanto celebra devia realçar os sabores e não mascará-los.
Dois pratos foram prejudicados pelo excesso do tempero: a moqueca de badejo, envolta em creme de leite de coco, pimentões e azeite de dendê (R$ 52), e o rosado medalhão, com risoto de camembert e cogumelos puxados na frigideira com creme de leite e shoyu (R$ 83). Ah, os preços também são salgados.
Sobremesas açucaradas são igualmente bem servidas (e cuidadas de perto). Um exemplo é o doce de banana com farofa da brasileira castanha-do-pará, ganache de chocolate amargo e chantilly de doce de leite (R$ 15).
O balcão que circunda a cozinha, aberta, convida a um drinque (e a oferta é caprichada). Opções variadas de vinhos em taça e meia garrafa enriquecem a carta.