Folha de S. Paulo


Colecionador faz degustação histórica com vinhos Vega Sicilia no Rio

O Vega Sicilia Único está para a Espanha como o Château Petrus ou o Château d'Yquem para a França: é seu vinho mais famoso e icônico.

Pablo Álvarez, da família proprietária da vinícola homônima, que produz o vinho, esteve no Rio neste mês para participar da maior degustação jamais feita de Vegas Sicilias, organizada pelo empresário e enófilo Célio Pinto de Almeida.

Álvarez, único responsável entre sete irmãos pelos vinhos da família, foi em seguida a São Paulo para apresentar o Vega Sicília Único –o carro chefe– e exemplares dos outros rótulos da marca a jornalistas, sommeliers e ao público pagante de um jantar no restaurante La Tambouille.

"O Único é um vinho histórico que há mais de 150 anos aposta na qualidade, não falha nunca", explica Josep Roca, sommelier do El Celler de Can Roca, número um no ranking dos 50 melhores restaurantes do mundo da revista Restaurant. "Fez por merecer o título de melhor vinho da Espanha."

Vendido a US$ 957 (R$ 3.339,93) a garrafa na importadora, trata-se de um luxo para muito poucos. O Valbuena, igualmente festejado e produzido de maneira similar, custa US$ 368,50 (vendido em reais por R$ 1.286,05), e o Alion, com um estilo que lembra o de vinhos do Novo Mundo, US$ 162 (R$ 565,38).

Álvarez, que dirige a vinícola desde 1985, vem enfrentando uma tormenta. Embrenhou-se em arrastada batalha judicial, um lado encabeçado por ele, e outro por seu pai David, que acaba de ganhar o processo que corria no Supremo Tribunal.

Quatro dos outros irmãos tomaram seu partido e dois, o do patriarca, que ganhou o controle da vinícola. Pablo segue como o único da família que cuida dos vinhos no dia a dia, mas o pai pode afastá-lo quando quiser.

"Estão há uns dez anos brigando feio, onde um vai o outro não vai", diz Roca. "E no entanto Pablo é mais do que importantíssimo, é vital para Vega Sicilia. Com seu trabalho impecável, reformou lenta e meticulosamente a vinícola, que hoje tem um prodígio comparável às grandes de Bordeaux, como os Châteaux Latour e Cheval Blanc". Para piorar, Javier Ausás, o enólogo que trabalhou com ele por 23 anos, saiu há poucos meses da empresa.

Sereno e de fala mansa, Álvarez diz que a troca da guarda não é nada grave. "Chegamos a um acordo. Depois de tantos anos, era bom que nos separássemos. Gonzalo Iturriga de Juan, o novo enólogo, foi escolhido por mim. É um jovem engenheiro agrônomo, bem preparado para que sigamos avançando".

Além dos três vinhos-estrela citados acima, feitos em Ribera del Duero, o duo cuida da qualidade dos tintos que produzem em Rioja (Macán e Macán Clásico) e em Toro (Pintia). Também estão sob sua responsabilidade vinhedos na região de Tokaj, na Hungria, onde fazem um celebrado branco licoroso (Tokaji Aszù Oremus) e um branco seco (Furmint Mandolás Oremus).

DEGUSTAÇÃO HISTÓRICA

Embora sejam todos de alta qualidade, nem mesmo os próprios vinhos da casa podem concorrer com a mística em torno do Vega Sicilia Único. Célio Pinto de Almeida, considerado um dos maiores colecionadores de vinho do mundo, levou anos reunindo garrafas do vinho para poder oferecer a 40 privilegiados –entre eles Álvarez– a rara oportunidade de prová-las em conjunto.

Foram três dias seguidos de degustações: 76 safras de Vega Sicilia Único e 34 de Reserva Especial (espécie de edição limitada do Único, um blend de grandes safras).

Havia vinhos das décadas de 20 e 30 que sequer a própria vinícola tem na adega, além de safras que nem mesmo Álvarez havia provado, como a de 1915. "Só um homem como Célio pode fazer algo assim, é um personagem único no mundo do vinho", diz.

Os renomados sommeliers Manoel Beato e Gabriela Monteleone, entre outros, viajaram ao Rio para participar da histórica degustação, que Álvarez diz ter sido "a maior jamais feita". Até para eles e os outros experts presentes, foi algo fora do normal.

Como Pinto de Almeida, o Brasil tem muitos outros colecionadores importantes, com cacife para comprarem Vegas. "É um de nossos maiores mercados", diz Álvarez.

Para o consumidor comum, resta usar a marca como selo de qualidade, comprando seus vinhos mais acessíveis. O branco seco Mandolás, por exemplo, a US$ 49,90 (R$ 174,15) a garrafa, demonstra bem o elegante estilo dos vinhos Vega Sicilia sem quebrar a conta bancária do bebedor.


Endereço da página:

Links no texto: