Folha de S. Paulo


Chefs se indignam com veto a foie gras e discutem reação

Diante da proibição da venda e produção de foie gras na cidade de São Paulo, aprovada na quinta-feira (25), chefs se mostram indignados e resignados. "Vou fazer o quê? Comer foie gras escondido? Vou cumprir a lei", disse o francês Erick Jacquin, jurado do "Masterchef" (Band).
"A limitação [de trabalhar sem o ingrediente] não é a questão. Mas o direito de poder escolher o que eu cozinho", diz o chef do Epice, Alberto Landgraf.

Na próxima quarta (1º), representantes do setor, como a Associação dos Profissionais de Cozinha do Brasil e a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, devem se reunir para traçar estratégias jurídicas contra o veto.

A lei proíbe a venda e a produção do fígado gordo de pato e ganso. A iguaria é obtida por meio da "gavage", técnica de engorda das aves em que um tubo é introduzido na garganta para forçar a alimentação.

Fernando Haddad não seguiu a recomendação da Procuradoria Geral do Município para decidir sobre o tema. A PGM sugeriu o veto e apontou inconstitucionalidade no projeto: a matéria deveria ser tratada em âmbito federal e não municipal.

Nesta sexta (26), após evento sobre segurança alimentar, o prefeito afirmou que a Procuradoria tinha avaliado a questão do ponto de vista comercial, e não ambiental. "Tínhamos que levar a sério esse debate sobre o sofrimento dos animais", disse.

A Folha apurou que Haddad iria vetar o projeto, mas, após pesquisar e até ver um filme sobre o tema, mudou de ideia. Para aliados, ele pesou os lobbies da causa animal e do público gourmet e optou pelo lado mais barulhento.

"O problema é a incoerência. Há criação cruel de foie gras, mas também de bois e frangos. Mas proibir isso esbarraria em interesses econômicos e políticos", disse Alberto Landgraf, do Epice. "É muito mais fácil enfrentar produtores artesanais, como são os de foie gras, do que grandes empresas", afirmou Benny Novak, do Ici Bistrô.

"Vamos quebrar", disse Pierre Reichart, produtor de foie gras do interior paulista. "O fígado é o que nos dá lucro, o que viabiliza a produção de patos."
O fornecedor do ingrediente diz ter na capital 80% de sua demanda.

A lei, proposta pelo vereador Laércio Benko (PHS), veta ainda o comércio de artigos de pele de animais criados só para este fim. "São casacos de pele de chinchila, sapato de couro de cobra, casaco de vison etc. Não atinge artigos de couro de boi nem pele de coelho, porque são abatidos para consumo da carne", disse Fabio Chaves, ativista de direitos dos animais. "Durante o debate do projeto de lei, focamos no foie gras para não chamar a atenção para a proibição das peles e atrair possíveis pressões da indústria", completa.

A lei ainda pode ser derrubada. "Houve invasão de competência", diz o jurista Ives Gandra Martins. "Um sindicato pode entrar com mandado de segurança em primeira instância, e o juiz pode declarar a inconstitucionalidade."


Endereço da página: