Folha de S. Paulo


crítica

Faltam tempero e firmeza às massas de Jamie Oliver

Matt Russell
Sausage papardelle com molho de linguiça servido no salão do Jamie's Italian
Sausage papardelle com molho de linguiça servido no salão do Jamie's Italian

Quem viu, anos atrás, o programa do inglês Jamie Oliver em que ele visitava a Itália e horrorizava as "mammas" com o despreparo na cozinha local não vai se assustar com a comida de seu primeiro restaurante na América Latina, o Jamie's Italian, de São Paulo.

O nome já diz: é o "italiano do Jamie" (não necessariamente dos italianos). Aberta há um mês, a casa tem filas ininterruptas, telefone que jamais atende e espera do lado de fora, no estilo balada.

Prova de que Oliver é um fenômeno de marketing. Merecido, já que seus livros, seus programas e sua militância por uma alimentação sadia ajudam a tornar a gastronomia mais acessível e melhor.

Suas dezenas de restaurantes são seu ponto fraco (não de faturamento, mas de prestígio). O que não tira méritos do Jamie's Italian brasileiro, montado por investidores que incluem, como operador, o chef e consultor Lisandro Lauretti, 41. O estabelecimento funciona direito, mesmo com o intenso movimento.

O fato de não ser religiosamente italiano não é pecado quando há criações atraentes –como os "nachos italianos" (raviólis de quatro queijos fritos com molho all'arrabbiata). E a delicadamente crocante lula frita com sêmola, servida com maionese de alho e pimenta dedo-de-moça.

Melhores que os arancini (bolinhos de risoto de tomate e mozarela), empanados em farinha panko (que faria até algodão crocante), servidos envoltos numa casca amolecida.

Os ingredientes são escolhidos a dedo, frango e porco são caipiras, o peixe do dia tem sido o beijupirá ("sustentável, sem contaminação"). Mas os pratos de peixe fixos do cardápio são de salmão, criado em gaiolas nas polêmicas fazendas chilenas.

As massas incomodam. Confeccionadas em máquinas no local, só convencem em alguns formatos. As secas (de farinha e água, que devem ter textura mais firme) aqui parecem não ter secado o bastante para depois cozinhar al dente: ficam como massa fresca (aquela caseira, com ovo, mais macia).

O espaguete parece linguine fresco, menos mal. Mas no "penne carbonara" a massa chega a dobrar sobre si mesma. Aliás, o molho podia ter outro nome (já que tem alho-poró, creme de leite, queijo demais) e melhor sabor.

Talvez seja a preocupação com um estilo "leve e saudável" que dê aos pratos um sabor atenuado, pedindo mais tempero, como as pappardelle ao ragu de porco e erva-doce com vinho tinto, ou o linguine com camarões (pequeninos), sem sabor de mar.

O frango caipira com alho e alecrim, servido com molho de tomate, azeitona, dedo-de-moça, anchova e alcaparra, tem a carne suculenta, mas sem tempero –ao menos traz por cima esses condimentos.

O contrafilé, embora fino, veio malpassado, como pedido, na boa companhia de cogumelos, rúcula com endívia e batatas supostamente em chips (nem finas nem crocantes).

Cheesecake de mascarpone tem mais gosto de limão que de queijo, e o tiramisù, mais gostoso, tem raspas de laranja –é o estilo italiano do Jamie.

Raphael Criscuolo/Divulgação
Salão do Jamie'’s Italian, em São Paulo
Salão do Jamie'’s Italian, em São Paulo

JAMIE'S ITALIAN - REGULAR

ENDEREÇO av. Horácio Lafer, 61, Itaim, tel. (11) 2365-1309
HORÁRIO dom. a qua., das 12h às 23h; qui. a sáb., das 12h à 0h
AMBIENTE informal, todo envidraçado, com móveis rústicos
SERVIÇO eficiente e muito treinado
VINHOS oferta modesta; somente um vinho em taça ou meia garrafa
PREÇOS entradas, de R$ 18 a R$ 42 (por pessoa); pratos principais, de R$ 29 a R$ 78; acompanhamentos, de R$ 8 a R$ 22; sobremesas de R$ 16 a R$ 24


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