Folha de S. Paulo


Fungo faz fazendeiros da América Central deixarem de plantar café

A fazenda onde Julio Portillo plantou café arábica por mais de duas décadas em El Salvador, na América Central, serve agora de local de passeio para veados e um campo onde só crescem ervas daninhas.

Devido a uma doença devastadora chamada ferrugem, causada pelo fungo Hemileia vastatrix, este é o primeiro ano em que o fazendeiro teve que abandonar o cultivo do café.

Christian Escobar Mora - 30.mai.2014/Efe
Agricultor, trabalha em plantação de café
Agricultor trabalha em plantação de café

Mesmo quando ele lutava contra o preço baixo ou mau tempo no passado, o fazendeiro, que faz parte da cooperativa Chahuite, próxima a capital do país, San Salvador, sempre dedicou uma grande parte de suas terras ao plantio do café arábica.

Porém, depois de três anos consecutivos lutando contra a doença historicamente chamada na região de ferrugem do café, ele não plantou as mudas e não tratou as árvores que sobreviveram.

O declínio prolongado nos preços nos últimos sete anos esgotou as reservas de dinheiro dos agricultores, deixando pouco para investir nas caríssimas sementes resistentes à ferrugem.

Mais da metade das plantações de café da América Central foram afetadas pelo fungo.

Especialista dizem que a taxa de fazendeiros que não replantaram suas árvores é bem maior do que o estimado anteriormente, trazendo preocupação do impacto financeiros a longo prazo em uma das maiores regiões produtoras de grãos de alta qualidade como o arábica.

"O fungo atingiu fortemente as árvores de café. Isso foi em torno dos lados das montanhas e comeu tudo", declarou Portillo à Reuters, enquanto estava em sua fazenda em Jayaque Mountains, a cerca de 60 km de San Salvador.

Metade dos membros da cooperativa Chahuite trocaram suas plantações por outras culturas como o tomate e pimenta chili, ou deixaram de vez a agricultura, disse Portillo.

Na temporada de colheita, que terminou em setembro, a cooperativa, que tem cerca de 300 acres de terras, produziu apenas 153 sacas de 60kg de grãos arábica, bem abaixo das 4 mil sacas de outros anos.

Participantes do mercado de café agora estão preocupados com possível falta de grãos no mercado global, o que pode acabar atingindo grandes torrefações dos EUA, incluindo a J.M. Smucker Co. e a Kraft Foods Group Inc, pela primeira vez em cinco anos.


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