Folha de S. Paulo


Fórum discute produção de cacau e chocolate 100% brasileiros em Ilhéus

"Durante muito tempo, o Brasil foi produtor de cacau como commoditie, vendido no estado bruto para ser beneficiado lá fora. Será que, depois de centenas de anos, o Brasil está preparado para ser uma referência mundial na produção do chocolate?"

Foi com essa pergunta que Josimar Melo, crítico da Folha, abriu nesta sexta (25) o 2º Fórum sobre Produção de Cacau e Chocolate de Origem 100% Brasileira, em Ilhéus (BA). O encontro aconteceu dentro do 6º Festival Internacional do Chocolate e Cacau da Bahia, que reúne desde quinta (24) até domingo (27) cerca de 20 expositores de cacau e chocolate, como Harald, Mendoá, Sagarana e Chor.

Ana Paula Boni/Folhapress
Cacau da Fazenda Leolinda, de João Tavares, no sul da Bahia
Cacau da Fazenda Leolinda, de João Tavares, no sul da Bahia

O produtor João Tavares, da fazenda Leolinda, diz não ter dúvidas de que o Brasil seja capaz de ser referência mundial. "Temos variedades genéticas de cacau em quantidade superior à maioria dos países produtores; temos regiões diversas, como Amazônia e Bahia, vários terroir; e, a cereja do bolo, temos um mercado que quer comprar."

Tavares conta que –depois que a região foi devastada pela praga da vassoura de bruxa no fim da década de 1980 – muitos produtores voltaram a acreditar na lavoura com a produção de cacau fino, de maior qualidade, há cerca de oito anos. "Passamos três anos entre pesquisas. E de cinco anos para cá a produção desse cacau fino ganhou uma velocidade enorme."

Em 2010 e 2011, Tavares ganhou, com suas amêndoas especiais, dois prêmios no Salão do Chocolate de Paris -nas categorias "cacau/chocolate" e, mais sofisticada, "frutas secas".

Ao lado dele na mesa de debate estavam outros dois produtores de cacau fino: Henrique Almeida, da marca Sagarana, que também é diretor-geral do Instituto Biofábrica de Cacau; e Eimar Rosa, da marca M.Libânio, também diretor agrícola da CooperBahia.

João Tavares, que não processa seu cacau, vende as amêndoas para empresas como a Harald, que as transforma em chocolate fino, hoje consumido em docerias de São Paulo como a Chocolat Des Arts.

Ainda fizeram parte da mesa-redonda a chocolatière da Chocolat Des Arts, Cíntia Lima; Ernesto Neugebauer, fundador da Harald; e Rosa Moraes, diretora de Hospitalidade e Gastronomia da Rede Laureate Brasil.

DESAFIOS

Para Neugebauer, que apostou no cacau baiano após conhecer parte desses produtores no Salão do Chocolate de Paris e faz chocolate fino com cacau 100% brasileiro há dois anos, o maior problema do produto brasileiro hoje é a reputação no mercado. "Temos de fazer esse trabalho tijolinho por tijolinho. Nas prateleiras do supermercado, temos vinho, azeite e café premium brasileiros. Mas quantos chocolates? Nenhum."

Ana Paula Boni/Folhapress
Cacau aberto
Cacau aberto

Como não se faz chocolate bom com cacau ruim, diz ele, o maior trabalho está na produção da amêndoa, que tem de ser de alta qualidade – trabalho que vem sendo feito na Bahia e também no Pará. "Mesmo assim, temos de fazer um produto 10% melhor do que o normal para que eles, lá fora [Europa], achem o nosso chocolate minimamente igual ao deles."

Na ponta do consumidor final, Cíntia Lima diz ver a educação do consumidor como o maior desafio hoje para o chocolate brasileiro decolar. "O cliente chega à minha loja e quer chocolate belga. Eu mudei de belga para brasileiro porque vim aqui [para a Bahia] conhecer esse cacau de qualidade. E conto isso para os meus consumidores, porque eles precisam saber disso."

A jornalista viajou a convite da Harald


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