Folha de S. Paulo


Fungo em café aumenta os preços de cafés de alta qualidade

Os Estados Unidos estão tomando medidas para ajudar os fazendeiros da América Central a lutar contra um fungo do café -e a segurar os preços.

Em debate está um fungo chamado ferrugem do café, que causou mais de US$ 1 bilhão em danos na região da América Latina. O fungo é especialmente mortal para o café Arábica, grão que compõe a maior parte de cafés de alta qualidade.

As perdas já estão afetando o preço de alguns desses cafés nos Estados Unidos.

"Nós estamos preocupados porque nós sabemos que a ferrugem do café já está causando quantidades massivas de devastação", disse Raj Shah, responsável pela U.S. Agency for International Development (USAID, Agência para Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos).

Na segunda (19/05), é esperado que a agência anuncie uma parceria de US$ 5 milhões com o centro de pesquisas World Coffee Texas, da universidade A&M do Texas, para tentar eliminar o fungo.

Mas o governo não está fazendo isso só para proteger os cafés especiais de US$ 4, por mais que os americanos os adorem. A maior preocupação é com a segurança econômica dessas pequenas fazendas. Se os fazendeiros perdem seus empregos, aumenta a fome e a pobreza na região, o que contribui para a violência e tráfico de drogas.

O governo em Washington estima que a produção poderia diminuir entre 15 a 40 por cento nos próximos anos, e essas perdas significariam que até 500 mil pessoas perderiam seus empregos. Embora alguns países tenham conseguido controlar o fungo, muitos dos produtores mais pobres da América Latina não veem melhora para o problema da ferrugem no futuro próximo.

Guatemala, El Salvador, Honduras, Panamá e Costa Rica tomaram um duro golpe.

Muito do café mais suave, produzido em massa nos Estados Unidos vem da Ásia e outras regiões. A maior parte do café mais rico e caro são de fazendas pequenas, de alta altitude, da América Central. Como as produções são menores, fazendeiros com frequência não têm dinheiro suficiente para comprar os fungicidas necessários ou não têm o treinamento necessário para plantar de maneira que poderia evitar a contaminação.

A ferrugem, chamada Roya em espanhol, é um fungo que é altamente contagioso devido aos esporos carregados pelo ar. Eles afetam diferentes variedades, mas os grãos de Arábica são especialmente suscetíveis. Tempo chuvoso piora o problema.

"Não vemos um fim à vista," disse Leonardo Lombardini do centro de pesquisas World Coffee, da universidade Texas A&M.

Até agora, a maior parte das companhias de café americanas foram capazes de encontrar suprimento suficiente para evitar aumento nos preços. Mas alguns empreendimentos menores já sentiram a alta nos preços, disse Ric Rhinehart, da Specialty Coffee Association of America (Associação dos Cafés Especiais da América).

Rhinehart disse que o pior cenário é aquele no qual os consumidores eventualmente pagarão "preços extraordinariamente altos por esses cafés, se puderem encontrá-los".

Ele disse que algumas variedades muito raras, de origem única -cafés da Antígua na Guatemala, por exemplo- têm sido muito mais difícil de encontrar. Se o problema continuar, ele diz, algumas empresas pequenas de café aumentarão os preços ou usarão blends que são mais fáceis de encontrar, diminuindo a qualidade do café.

Companhias maiores, como Starbucks e Keurig Green Mountain Inc., têm múltiplos fornecedores na região e dizem ter sido capazes de comprar café suficiente até agora.

"É um pouco cedo para dizer qual será o impacto no fornecimento e na qualidade a longo prazo", disse Lindsey Bolger, responsável pela área de fornecimento da Keurig Green Mountain.

Ainda assim, as companhias estão tentando garantir que seu fornecimento futuro não será afetado, então eles estão trabalhando junto aos produtores em melhores práticas, que os ajudarão a evitar a contaminação.

"Apoiar a habilidade do fazendeiro de acessar informação, tecnologia e recursos permite que eles se adaptem a essas incertezas e garante a longevidade da cadeia de fornecimento da nossa indústria" disse Craig Russell, o vice presidente executivo da Starbucks Global Coffee. A Starbucks até comprou uma fazenda na Costa Rica para pesquisas.

A USAID para o desenvolvimento internacional tem a intenção de trabalhar com a Texas A&M para melhorar a pesquisa em variedades de café resistentes à ferrugem e para ajudar a América Latina a monitorar melhor e a responder ao fungo. Os Estados Unidos já colaboram com algumas empresas de café e outras organizações internacionais para financiar o replantio de diferentes variedades de árvores.

O esforço é parte do programa capitaneado pela administração Obama chamado Feed the Future (Alimente o Futuro), que visa acabar com a pobreza extrema do mundo por meio de desenvolvimento da agricultura e melhorias na nutrição.

O esforço tem ajudado crianças famintas ao redor do mundo, mas "estamos correndo o risco de retroceder por causa da ferrugem do café", diz Shah.


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