Folha de S. Paulo


Brasil superou distinção entre chefs homens e mulheres, diz Helena Rizzo

Anunciada nesta terça-feira (25) como melhor chef mulher do mundo — título concedido pela mesma organização que realiza o ranking global dos 50 melhores restaurantes, promovido pela revista britânica "Restaurant"—, Helena Rizzo se disse "muito feliz" à Folha.

Ela conversou com a reportagem por telefone, no intervalo de uma aula que está dando em São Paulo.

Leia também a análise: "Cozinheira mostra o que pensa sobre o comer, inova e suscita felicidade".

Reprodução/Instagram/alexatala
Helena Rizzo e Alex Atala na cerimônia dos 50 melhores restaurantes do mundo, em 2013
Helena Rizzo e Alex Atala na cerimônia dos 50 melhores restaurantes do mundo, em 2013

"Eu já sabia da premiação, porque eles a comunicam com antecedência, em uma carta sigilosa, então tive que guardar segredo", contou. "Hoje parece que é meu aniversário. Estou recebendo carinho de amigos e de pessoas queridas, está sendo muito legal".

Veja abaixo os principais trechos da conversa da chef com a reportagem.

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Ganhar um prêmio individual é mais bacana, para você e para o restaurante, do que uma eventual subida na lista?
Não penso muito nisso, não sei se vamos subir mesmo ou não. Reconhecimento é sempre bom, é sempre bacana, principalmente porque a gente faz o que a gente gosta. Esse reconhecimento é importante para nós e para a cena gastronômica do país. E, aliás, é individual, mas eu sou só uma porcentagem dele; ele é do Maní, de todo mundo que trabalha comigo, do Daniel [Redondo, marido de Helena e também chef do Maní].

Mas a expectativa, com esse reconhecimento, é que o Maní suba na lista da "Restaurant", não?
No ano passado já entramos na lista dos 50 melhores, o que foi muito legal. Mas, sinceramente, não me preocupo muito com a colocação. O fato de o Brasil estar sendo reconhecido pela gastronomia me alegra mais. Eu sou uma porcentagem muito pequena do que temos de gente fazendo trabalhos bacanas na cozinha no país. Nesse sentido, o prêmio pode ser bom para jogar luz do que está sendo feito por aqui.

Mais luz ainda, nesse caso.
Temos muita gente empenhada, a fim de fazer coisas legais. Cada um pesquisa uma coisa diferente, em uma onda diferente. O Brasil é isso. Nós, do Maní, fazemos uma cozinha, uma expressão de cozinha, e há muitas outras expressões que valem a pena serem vistas.

Inclusive as que são feitas por mulheres como você?
Aqui no Brasil temos um equilíbrio muito bacana na cozinha. Temos restaurantes fantásticos comandados por mulheres como Mara Salles, Roberta Sudbrack, Paola Carosella, Gabriella Barretto, a Bel Coelho, ainda que ela esteja afastada... Fora as que a gente não conhece! Temos uma expressão feminina muito forte na cozinha, talvez mais forte do que lá fora. Acho que já superamos a distinção entre chefs homens e mulheres –entre quem trabalha na cozinha, entre a imprensa e entre o público.

O que você acha que foi determinante para sua escolha como melhor chef mulher do mundo?
Temos persistência no que fazemos, gostamos de trabalhar com isso e temos essa coisa de não querer ser o melhor, mas de fazer o nosso melhor. Em um restaurante, o que vale mesmo é o dia a dia, a cada dia há coisas e pessoas completamente diferentes, e temos que aprender a fazer melhor a partir disso. Esse não é um mérito só nosso, há muita gente que busca isso também, mas acho que pode ter sido algo decisivo.

A organização do prêmio fala que você concilia respeito pela tradição com técnicas contemporâneas, e que isso é parte talento, parte experiência.
Tento buscar um sentido verdadeiro na cozinha. Mas não olho só para dentro, tenho que olhar para fora e ver o que está acontecendo por aí. A gente não tem medo de passear por várias ideias, estamos o tempo todo fazendo trocas; a cozinha tem isso de ser um elo, um lugar de relações e de trocas. Há tradição, história, descobertas, e o cotidiano também.

Foi a vitória do lírio-do-brejo?
O lírio-do-brejo é um vencedor por si só. Mas é só um dos guerreiros que nós temos.


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