Folha de S. Paulo


Aromas artificiais chineses despertam fúria de produtores de trufas da França

Os produtores de trufas da França, um dos três países europeus (juntamente com Espanha e Itália), que produzem o fungo tão apreciado na gastronomia, estão em pé de guerra com as trufas chinesas, aromatizadas sinteticamente e muito mais baratas.

Eles reivindicam em particular a transparência sobre a origem do produto, como já é feito, por exemplo, com carne e frutas.

Michel Gangne - 6.fev.2003/AFP
Produtor expõe suas trufas negras durante feira nacional do produto, na França
Produtor expõe suas trufas negras durante feira nacional do produto, na França

É necessário "recuperar a produção" do "magnífico fungo" na França, declarou nesta semana o ministro da Agricultura, Stéphane Le Foll. Para os profissionais, o objetivo é defender a trufa francesa contra a concorrência desleal da China.

Uma concorrência favorecida por "maus chefs que utilizam as trufas chinesas e as regam com aromas artificiais sem informar os clientes" afirma Michel Santinelli, da Federação Francesa de Truficultores (FFT).

A trufa chinesa (tuber indicum) é mais barata que a trufa negra do Périgord (tuber melanosporum) – o quilo da primeira custa, em média, 30 euros e o da segunda 500 euros – porque não têm o mesmo sabor.

Para tapear a falta de sabor, bastam algumas gotas de aroma sintético. À primeira vista, o consumidor não se dá conta.

Por isso, os produtores franceses reivindicam que a célebre trufa negra do Périgord tenha uma etiqueta de qualidade que a proteja, do tipo "Denominação de Origem".

Eles querem também que a variedade de trufas que não são tradicionais desse território sejam classificadas como "espécies exóticas invasoras" porque existe o temor de que a trufa chinesa invada as vendas locais, o que geraria consequências gastronômicas e econômicas ainda mais graves.

MEDIDA A OLHO

Para enfrentar a concorrência com as trufas chinesas e os sabores artificiais, os truficultores poderiam assumir o desafio de aumentar a produção. Uma escolha aleatória para uma produção "estruturalmente deficitária", nas palavras de Jean-Charles Savignac, presidente da FFT.

O problema é que a França, Espanha e Itália, os três principais produtores da Europa, não conseguem satisfazer a demanda dos amantes da boa mesa do mundo inteiro.

E a produção do "diamante negro", como se conhece a trufa, é difícil de racionalizar e segue sendo medida a olho.

"Sabemos da necessidade de uma terra calcária e um clima temperado, sem grandes geadas e umidade", mas falta muito por conhecer sobre a adaptação às mudanças climáticas —a seca é apontada como uma das causas da diminuição da produção nos últimos 40 anos.

Para ele, é preciso investir em pesquisa e experimentação.

"Vamos selecionar parcelas nas principais regiões produtoras e plantar árvores trufeiras variando as condições – de rega e de poda – para ver o que acontece", explica Savignac.

Enquanto isso, os 20 mil truficultores franceses se comprometem a plantar entre 300 mil e 400 mil árvores na tentativa de aumentar a produção.

Mas há que dar-se tempo ao tempo, porque "há que se cuidar das árvores durante dez anos, antes de conseguir, quiçá, a primeira colheita de trufas", afirma Santinelli.


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