Folha de S. Paulo


Outro lado: Vegano afirma que dieta é mais fácil do que se imagina

Caro futuro vegano, não se assuste ao ouvir que suas possibilidades gastronômicas serão insossas, tape o nariz para os argumentos conservadores e faça a experiência. Não é fácil, como qualquer mudança de hábito, mas é mais fácil do que se imagina.

Crítico da Folha faz dieta vegana por uma semana; veja conclusões
Dieta vegana causa carência de nutrientes

Deixei de comer carne quase sem querer: os bifes que me serviram durante uma semana do começo de 2008 não me apeteceram, e decidi estender o período sem carne vermelha por mais um mês. Ao final dele, achei que o desafio estava surpreendentemente fácil e, em vez de voltar à minha dieta anterior, resolvi cortar frango e peixe.

Antes daquela semana, não havia cogitado virar vegetariano, mas minha veia ambientalista me tirava o "privilégio" de não saber do impacto que a pecuária tem sobre o planeta. Sei que há incontáveis outras razões para que você queira seguir esse caminho, sejam éticas ou nutricionais, mas essa sempre foi a que me moveu.

Dois anos depois, deixei de comer ovos. Passou-se mais um e larguei os derivados de leite. Talvez gradualmente também seja melhor para você.

Nunca fui a um nutricionista ou a outro profissional para saber sobre minha alimentação. Sei que estou errado; não faça isso. Mas também seria de fazer arrepiar a comunidade médica dizer que só quem é vegetariano precisa de aconselhamento especializado: 51% da população brasileira está acima do peso, segundo o Ministério da Saúde.

Talvez você queira tomar um suplemento de vitamina B12, a única não encontrada em fontes vegetais, ainda que haja suficientes doses dela em quase todo leite de soja (que tem também cálcio melhor absorvido que o do leite).

Sou ciclista por esporte -a última competição ciclística que venci foi na semana passada, e não havia uma categoria só para vegetarianos-, então me preocupo em consumir, entre outros nutrientes, as chamadas proteínas completas (com todos os aminoácidos), só que elas sempre estarão tão distantes de você quanto combinar arroz e feijão. Os ultramaratonistas veganos Daniel Meyer e Scott Jurek diriam para você não se preocupar tanto com isso.

Apesar da mudança, você não precisa deixar de comer junk food. Sou um junkie convicto; preencho meu "vazio" com pizza, pastel, hambúrguer, bolacha recheada, chocolate, amendoim, cerveja, vinho e quase todos os pães da padaria.

Quando posso, como feijoada, acarajé, tempurá, shimeji, inarizushi, homus, baba ghanoush, falafel, nachos, guacamole, massa, pesto, gazpacho, empanada, sorvete, brigadeiro, bolo. Há tudo isso sem manteiga, leite ou ovos.

Faço meu requeijão de tofu, mas você pode encontrar o produto pronto no supermercado. Também dá para comprar rosbife, salsicha, linguiça, bife e medalhão vegetarianos. Talvez, às vezes, você vá querer comer também salada.

Por fim, futuro vegano, confesso que não sigo o curso da natureza: vivo na cidade, faço compras, tenho geladeira. Tampouco digo que minha dieta é natural. Ela é tão cultural quanto qualquer outra decisão, e qualquer outra dieta.


Endereço da página:

Links no texto: