Folha de S. Paulo


Dieta vegana causa carência de nutrientes

Procurei passar minha semana vegana em quatro ambientes: minha cozinha, restaurantes veganos, restaurantes com alguma inclinação natural e restaurantes comuns.

Em casa, fiz um macarrão com tomates, alho, azeite, pimenta calabresa, ervilha-torta crocante e purê caseiro de alcachofra (que dá sabor e encorpa o molho sem precisar de cremes). Fácil.

Erramos: Dieta vegana causa carência de nutrientes
Outro lado: Vegano afirma que dieta é mais fácil do que se imagina

Entre os restaurantes, dei-me bem no Le Manjue, que sem ser vegetariano adere a alimentos funcionais e orgânicos. Escolhi uma moqueca de shiitake e palmito com molho exuberante, muito bom.

Victor Moriyama/Folhapress
Moqueca de shiitake e palmito do Le Manjue
Moqueca de shiitake e palmito do Le Manjue

Acontece, porém, que mesmo respeitando as restrições veganas, esses pratos não resolvem a desnutrição provocada pela ausência de produtos animais.

Vegetariana (mas consumidora de ovos e laticínios), a nutricionista Alessandra Luglio atende desde maratonistas até veganos subnutridos e com olheiras.

"Tirando os produtos animais da dieta normal causamos uma carência de nutrientes fundamentais: proteína, cálcio e vitamina B-12, além de ferro e vitamina D", explica. "É preciso achar substitutos que os reponham."

Raros grãos fornecem sozinhos as proteínas animais de que necessitamos. Para fabricar essas proteínas, temos que ingerir vários ingredientes (cereais, castanhas, leguminosas) numa só refeição.

Não me animei a transformar minha cozinha numa farmácia, nem minhas receitas culinárias em receitas médicas, nem a gastar fortunas com a indústria de suplementos veganos.

Preferi viver esta experiência vegana mais radical em restaurantes especializados.

Quando o chef francês Alain Passard prepara seus magistrais legumes, ele não está preocupado em enfiar quinua na receita para salvar a vida de ninguém. E realiza obras de arte. Mas constatei que um restaurante vegano, que sabe que seus clientes podem ficar subnutridos, tem que encher o prato de substitutos da carne.

No modesto e simpático Broto de Primavera, da Liberdade, onde reina um ar pungente de paz, me foi oferecido um... "lombinho vegetal". Gostei da ideia (é miolo de jaca cozido), mas não da patética garfada: precisamos respeitar os animais, não chamem isso de lombinho! (O cuscuz estava gostoso; o arroz e feijão não tinham gosto.)

Eduardo Anizelli/Folhapress
"Lombinho vegetal" com cuscuz paulista do Broto de Primavera

O Nectare, em Pinheiros, também emana uma aura tranquila, e exibe uma vistosa mesa de saladas. Mas o "peixe de soja" nem de longe lembra pescados (parece quibe frito pastoso e sem graça).

Mas, enfim, a soja não estava ali para dar gosto nem prazer. São apenas ordens médicas. Também pedida, a seca moqueca de banana não salvou o almoço.

Também tentei ser vegano em restaurantes comuns. Sentei no Attimo e procurei algum prato compatível com minha triste sina. Mas fora saladas... nada servia. Mesmo as massas, têm todas um raguzinho de carne aqui, uma mozarela ali, uma linguicinha... Delícia.

Como já era o último dia de dieta, dei-me o direito de encerrar os trabalhos com algo mais convencional (para mim, ao menos): uma suculenta dobradinha. A volta à natureza humana integral.

Balanço curioso: com toda a provação, não emagreci nada. Em uma semana de dieta vegana, só perdi exatos sete dias.

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DIÁRIO VEGANO

Dia 1: Em casa, preparei macarrão com tomates frescos, alho, azeite, pimenta calabresa, ervilha-torta crocante e uma colher de purê de alcachofra

Dia 2: Jantei no Le Manjue, que não é vegano, uma moqueca de shiitake e palmito com molho exuberante, acompanhada de farofinha e arroz

Dia 3: No Broto de Primavera, modesto e simpático vegano da Liberdade, comi "lombinho vegetal" (miolo de jaca cozido)

Dia 4: Comi "peixe de soja", cujo paladar nem de longe lembra pescados, no Nectare, e uma moqueca de banana

Dia 5: Almocei em casa um "hambúrguer" de soja assado, farinhento e se desfazendo; legumes ao alho e óleo e salada

Dia 6: Jantei na casa de uma amiga, que preparou creme de ovos com caviar, garoupa crua e barriga de porco -e para mim, alcachofra com chimichurri e macarrão integral com brunoise de legumes e shoyu (muito bom, mas...)

Dia 7: No último dia, hora de voltar ao normal: pedi uma suculenta dobradinha no Attimo

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ONDE COMER

Attimo
Endereço r. Diogo Jácome, 341, Vila Nova Conceição; tel. 0/xx/11/5054-9999
Horário de seg. a sáb., das 12h às 15h e das 19h à 0h; dom. das 12h às 17h

Broto de Primavera
Endereço r. São Joaquim, 295, Liberdade; tel. 0/xx/11/3203-1340
Horário de seg. a sáb., das 11h30 às 15h30

Le Manjue
Endereço r. Domingos Fernandes, 608, Vila Nova Conceição; tel. 0/xx/11/3034-0631
Horário de seg. a qua., das 11h30 às 23h; de qui. a sáb., das 11h30 às 23h30; dom. das 11h30 às 17h

Nectare
Endereço r. Capote Valente, 305, Pinheiros; tel. 0/xx/11/2935-6987
Horário de seg. a sex., das 11h30 às 22h


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