Folha de S. Paulo


Vereador que quer proibir 'foie gras' se diz aberto a diálogo, mas prevê ampliar restrição

O vereador Laércio Benko (PHS), autor do projeto de lei que prevê a proibição da produção e da venda de "foie gras" na cidade de São Paulo, se diz aberto ao diálogo --inclusive com chefs--, mas ressalta que não vai abrir mão de sua posição.

Benko conversou, por telefone, na noite desta quinta-feira (3), com a reportagem da Folha, horas depois da aprovação, em primeira votação, de seu projeto.

Câmara de SP aprova, em primeira votação, proibição da venda de 'foie gras' na cidade

O texto ainda precisa passar por audiências públicas --a primeira delas, que havia sido convocada para a quarta-feira (2), acabou sendo adiada-- e por mais uma votação em plenário antes de ser encaminhada para a sanção do prefeito Fernando Haddad (PT).

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

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Folha - Depois da aprovação em primeira votação, quais são os próximos passos?

Laércio Benko - O projeto foi aprovado sem nenhum voto em contrário, o que já é um grande caminho. Mas ainda vamos costurar melhor o texto e organizar audiências públicas, para fazer correções pontuais e melhorá-lo.

Por que proibir o 'foie gras' em São Paulo?

Em que pese que me incomoda a forma como essas aves são alimentadas [o "gavage", pelo qual as aves são alimentadas à força, com dutos enfiados na garganta], isso é o de menos.

Esses patos e gansos são alimentados para que seu fígado dilate. Se eu exagero num fim de semana e meu fígado dói, eu me trato. O ganso, não. Essa prática deve doer muito na ave, 24 horas por dia, e eu duvido que alguém dê analgésico para ela.

Com a proibição, estaremos evoluindo como sociedade, abrindo mão de um prazer gerado por um grande sacrifício. Os bois são criados livres, em boas condições, e mortos rapidamente; o pato e o ganso, nesse caso, sofrem do momento em que nascem até o momento em que morrem, em nome de um prazer momentâneo.

O projeto debate até que ponto estamos dispostos a evoluir e abrir mão de certas coisas que possamos viver sem. Eu não posso abrir mão das minhas práticas religiosas, mas posso abrir mão do "foie gras"; eu ainda não consigo abrir mão de uma picanha de vez em quando, mas posso abrir mão de dar um casaco de pele de chinchila para minha esposa [o projeto também prevê a proibição da venda de roupas feitas de pele de animais].

Como o senhor recebe as críticas que os chefs fazem ao projeto?

Acho saudável receber críticas, sei conviver muito bem com isso. Estou aberto ao diálogo, inclusive com chefs, mas não abrirei mão da minha opinião.

Eu compreendo a diversidade, sei da importância que o "foie gras" tem na culinária francesa, mas --até como apreciador da boa cozinha--, sei que ele é irrelevante perto das maravilhas que os franceses preparam. Eles vão continuar fazendo a melhor culinária do mundo, na minha opinião, também aqui em São Paulo, independentemente disso.

E em relação a quem diz que o legislador não deve interferir nas escolhas individuais do cidadão?

Cabe ao poder público regular a vida dos cidadãos. Legislar é encaminhar a sociedade para uma evolução, mas dentro dos limites possíveis. Talvez virar vegetariano seria uma grande evolução para a humanidade, mas pouquíssima gente conseguiria ficar sem carne, inclusive eu; no caso do "foie gras", eu e 99,9% da sociedade estamos prontos para ficar sem.

O senhor já comeu 'foie gras'?

Já, e muito. Quando visitei a Hungria (tenho parentes lá), comia quase que duas vezes por dia, e gostava muito. Mas só porque não sabia da forma como ele é produzido --quando minha prima me avisou, eu parei.

O Estado americano da Califórnia proibiu a venda de 'foie gras', e lá alguns 'restaurateurs' driblaram a proibição dando a iguaria como mimo aos clientes...

Sei disso, e quero inclusive melhorar a redação do texto para proibir não apenas a produção e a venda, como também o fornecimento dele sob qualquer forma, inclusive como brinde.


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