Folha de S. Paulo


O dia que Deus apagou

Amigo torcedor, amigo secador, óbvio que Deus, como não quer nada, deu um migué no calendário e arrancou a folhinha de ontem, o maldito 2 de agosto.

Até um crente fuleiro como este cronista, que só clama pelo Homem na hora do desespero e da turbulência, sabe que era sexta e o Criador, qual um deputado que não ouve o bafo quente das ruas no cangote, eliminou tal expediente.

Mal o mês do cachorro louco começou e já vimos quanta desgraça. Não à toa, é o 2 de agosto que ficou na história, na sua edição 1934, como o ano em que o babaca do Adolf Hitler se torna "führer", líder do estadão das coisas alemãs. A Primeira Guerra também é de agosto, um dia antes, o primeiro.

Sentiu o drama, meu velho. Donde chegamos à conclusão que esse 2 de agosto nunca foi nem nunca será. Ilusão. Nunca existiu. Você se lembra do que aconteceu ontem? Nada. Um dia qualquer. Trânsito, chateação, o mala do chefe, algum desencontro, o amor emperrado, no máximo uma bela brochada ou broxada ""não custa sempre lembrar que os dicionários admitem o fracasso seja com "ch" do gênio e xará Buarque ou "x" de Xico mesmo.

Sou capaz de provar, amigo, que esta sexta não existiu, não houve, nem nunca haverá. O garçom cearense aqui, no bar e restaurante Príncipe de Mônaco, Copacabana, é testemunha. Era quinta-feira até pelo menos 18h da fatídica sexta.

O homem de fé tem ou deveria ter esse poder. O de parar o tempo. Como Deus fosse um juiz do basquete. Um favorável: só conta o tempo em que estamos com a bola toda.

Amigo, o torcedor ou o simpatizante santista não merecia este 2 de agosto. Esta folhinha não existiu, caiu muitos outonos atrás. Antes aquele 7x1 para o Corinthians, eternamente humilhado pelo Peixe na história, antes cinco do Palmeiras, que a gente sempre desconta. Quem dera perder de dez pro São Paulo, chance não falta de retribuí-lo.

Era feliz naquele dezembro fatídico de 2011, o bendito 4x0, e não sabia, meu caro. Se eu contar uma infeliz coincidência você não acredita. Sabe quem me apareceu do nada? A mesma mulher linda da manhã daquele jogo no Oriente contra o mesmo miserable Barcelona. Nem juntei as coisas. A mesmíssima cria da minha costela. Desalmada!

Mas quer saber? É tão gostosa e o Santos já ganhou tudo e tanto e quanto foi preciso na existência que arrisco com ela até um terceiro Mundial de Clubes. Bora, nega. Mulher aqui em casa nunca é pé-frio. Azar é não tê-la! Não te troco por nenhum torneio caça-níquel.

Uma força pra danada, que agora chega bonito no ombro do velho cronista como se tivesse culpa, a deusa das coincidências, tem culpa todo mundo, tem culpa eu, tem culpa meu Peixe, quem manda achar que viver é amistoso. Viver é tudo à vera, vale o jogo, por supuesto.

@xicosa


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