Folha de S. Paulo


Com produção recorde, preço da soja sobe e desafia a lógica

Mauro Zafalon/Follhapress
Sertaneja, PR: Plantil de soja em Sertaneja, no norte do Parana. (Foto: Mauro Zafalon/Folhapress) ***MERCADO***
Plantil de soja em Sertaneja, no norte do Paraná

Os preços da soja têm desafiado a lógica neste ano.

As projeções mundiais de safra continuam apontando para números recordes.

O volume produzido nos Estados Unidos já saiu da lavoura e foi para os armazéns, concretizando essas expectativas de produção.

Os volumes do Brasil e da Argentina, embora ainda possam sofrer impactos de problemas climáticos, também apontam para patamares recordes nesta safra.

Mesmo assim, os preços da oleaginosa se mantêm em alta e são os maiores desde julho. Do lado da oferta e demanda, não há explicações para essa valorização.

"A verdade é que a soja parece que entrou em lua de mel com Donald Trump [presidente eleito dos Estados Unidos]", diz Fernando Muraro, da AgRural de Curitiba.

As explicações, dadas até então, de que essa alta se deve à demanda aquecida podem não ser as melhores, segundo Daniele Siqueira, também da AgRural.

Os Estados Unidos já venderam 40,4 milhões de toneladas de soja até 16 deste mês, e a China comprou o volume recorde de 24,7 milhões deles. Esse volume superou o recorde anterior da safra 2014/15, que era de 24,3 milhões de toneladas, considerando o mesmo período.

Neste fim de ano, chegará também ao mercado externo parte da soja brasileira, cuja colheita se mostrará recorde nas primeiras semanas, segundo estudo que vem sendo feito pela AgRural.

Sem uma visão clara do que vai acontecer no ano que vem, o mercado aproveita para ganhar dinheiro neste intervalo entre o final da safra norte-americana e o início da colheita brasileira.

"O mercado se perdeu um pouco", afirma Siqueira. O dólar index (uma cesta de moedas) vem subindo. Em geral, a relação das commodities com a moeda norte-americana é inversa. Quando a moeda sobe, os preços desses produtos caem.

O mercado brasileiro se aproveita da alta dos preços internacionais da oleaginosa. O contrato de janeiro chegou a US$ 10,65 nesta segunda-feira (28) em Chicago, o maior valor desde 18 de julho.

Internamente, a saca de soja para entrega em fevereiro subiu para R$ 75 em Cascavel (PR), ante R$ 69 há um mês.

Em Sorriso, Mato Grosso, a saca é negociada a R$ 66, acima dos R$ 60 de há 30 dias.

Essa alta é um alento para os produtores, em plena boca de safra. Mas quem fez vendas antecipadas em junho teve ganhos ainda maiores, pois a saca estava sendo negociada a R$ 88 em Cascavel e a R$ 75,50 em Sorriso.

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PIB agrícola O crescimento foi de 3,4% de janeiro a agosto ante igual período ano passado, apontam o Cepea e a CNA.

União Europeia A produção agrícola dos países desse bloco atingiu US$ 436 bilhões no ano passado, 1,8% abaixo do valor de 2014, segundo o Eurostat.


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