Folha de S. Paulo


Um sonho doce que pode azedar

Stefan Wermuth/Reuters
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Garrafa de refrigerante no Reino Unido; indústria de bebidas europeia depende do açúcar da UE

Mesmo o mais doce dos sonhos pode azedar. Com esse título, estudo do Rabobank avalia o cenário do açúcar na União Europeia após o fim das cotas de preços mínimos e de exportação, o que ocorrerá daqui a um ano.

As mudanças podem elevar a produção, que terá uma concorrência mais acirrada. Os menos produtivos terão mais dificuldades em sobreviver.

Mas os preços internos do bloco devem seguir os do mercado externo, principalmente porque as exportações vão aumentar.

Sem as cotas de exportações, o produtor europeu vai buscar os mercados mais rentáveis. E, com isso, haverá também uma volatilidade maior dos preços.

Os compradores de açúcar estão otimistas. Há perspectivas de o aumento de produção trazer um superavit anual de 600 mil toneladas para o bloco.

A menor oferta mundial de açúcar pode levar, no entanto, boa parte do produto europeu para fora do continente.

Com isso, em um cenário pessimista, o deficit dos países do bloco seria de 1,7 milhão de toneladas por ano após 2017, segundo o banco. E isso pode ocorrer em um período de preços aquecidos para o produto.

As indústrias de bebidas e de alimentos europeias, bastante dependentes da produção da região, terão de buscar mais a proteção de risco em contratos de longo prazo.

Preferência pelo Brasil

Tradicional exportadora de óleo de soja, principalmente para a China, a Argentina está distante do mercado dos chineses neste ano.

Eles deram preferência para o produto brasileiro, cujas exportações já atingiram 250 mil toneladas até setembro, 20% mais do que em igual período do ano passado.

Nesse mesmo período, as receitas com o óleo de soja exportado pelo Brasil para os chineses somam US$ 175 milhões, 22% mais do que em 2015.

Os argentinos, líderes em exportações para a China no ano passado, não venderam para os asiáticos neste ano e não sabem se a interrupção das compras é uma mera mudança de foco dos chineses ou alguma barreira imposta ao país, como em 2010.

Naquele ano, os chineses também pisaram no freio nas importações do produto argentino devido às barreiras colocadas pelo governo de Buenos Aires aos produtos vindos da China.

No ano passado, os argentinos exportaram 525 mil toneladas de óleo de soja para a China, 65% das importações totais do país asiático.

Salvo pelo Paraguai

O Paraguai está salvando o Brasil da baixa oferta interna de milho neste ano. Com a quebra de safra e aceleradas exportações no início do ano, o país já teve de buscar 1,42 milhão de toneladas de milho no mercado externo, de janeiro a setembro.

A maior oferta veio do Paraguai, cujas exportações para o Brasil somam 761 mil toneladas. Os argentinos vêm a seguir, com a venda de outras 658 mil.

Os Estados Unidos, maiores produtores mundiais deste cereal, não puderam participar das importações brasileiras.

Só agora o produto norte-americano foi liberado para entrar no mercado nacional, mas a necessidade externa brasileira já é menor devido à chegada ao mercado da produção da safrinha.

A Camex (Câmara de Comércio Exterior) prorrogou, para até o fim deste ano, a alíquota zero para a importação de milho.

Os países do Mercosul já tinham alíquota zero, enquanto os demais pagavam 8%. O limite de importação é de 1 milhão de toneladas para os países que não pertencem ao Mercosul.

A força dos acordos comerciais

As exportações de leite dos Estados Unidos multiplicaram por cinco, em cinco anos, atingindo US$ 7,1 bilhões em 2014.

Os acordos comerciais dos EUA com outros 20 países (Free Trade Agreements) permitiram uma elevação das exportações de US$ 690 milhões antes do início desses acordos para US$ 2,8 bilhões em 2015.

Estudo do Usda (Departamento de Agricultura do país) indica que o cenário pode ficar ainda melhor. Quando incrementado, o TPP (Parceria Transpacífico), que engloba 12 países, poderá render mais US$ 300 milhões por ano em exportações nesse setor.

O mercado norte-americano de leite está maduro, e a saída agora é o mercado externo, segundo técnicos do governo dos EUA.

Estudo do Usda indica que cada US$ 1 exportado em leite movimenta outros US$ 3 na economia interna norte-americana.

Os Estados Unidos, que tinham 4% das exportações mundiais em 2004, já estão com 14%. A colocação do produto no mercado externo reflete também no bolso do produtor.

De 2004 a 2014, a renda média anual dos produtores aumentou US$ 7.560.

Enquanto isso, a Secex (Secretaria de Comércio Exterior) indicou que as importações brasileiras de leite e de derivados cresceram 186% no mês passado, em relação a igual período de 2015, atingindo US$ 53,8 milhões.

No acumulado do ano, somam US$ 310,4 milhões, 62% mais do que as de janeiro a setembro de 2015.


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