Folha de S. Paulo


Parece piada, mas não é

Muitos ainda vão tratar o assunto pelo ângulo do ridículo, e mesmo um interlocutor do prefeito Fernando Haddad (PT) afirmou: "A gente está preocupado de o SBT liberar o Bozo" (Painel, 25/7).

Era brincadeira, naturalmente, mas talvez o palhaço já não julgue absurdo disputar o comando de São Paulo no ano que vem. Outras figuras da TV parecem levar a ideia a sério.

É o caso, como se sabe, de José Luiz Datena, de estilo inconfundível à frente de programas policiais. Procurado por nada menos que três partidos, o jornalista descartou o PSDB e o PSB para ficar com o PP.

Agindo como quem não quer ficar para trás, outro jornalista tentou chamar a atenção. João Dória Jr., empresário e apresentador de um programa de entrevistas, lançou-se pré-candidato pelo PSDB.

Aos dois se soma Celso Russomanno (PRB), também jornalista, também personagem da TV. Notabilizado por defender direitos do consumidor, quase chegou ao segundo turno no pleito municipal de 2012.

Alguém descarta a entrada em cena de outras celebridades? Subcelebridades? Aventureiros? Tudo se passa como se não estivesse em jogo o destino da maior, mais rica e mais importante cidade do país.

Tudo se passa, aliás, como se a definição desses postulantes fosse mero detalhe folclórico. Nada mais errado.

No ensaio "Estratégia partidária e clivagens eleitorais", os cientistas políticos Fernando Limongi e Lara Mesquita sustentam que o "paulistano tem apresentado considerável estabilidade em suas decisões".

Os parâmetros da disputa, argumentam, foram definidos em 1985. Doze nomes postularam o cargo de prefeito, mas a competição de fato se deu entre apenas três: o vitorioso Jânio Quadros (PTB), Fernando Henrique Cardoso (PMDB) e Eduardo Suplicy (PT) concentraram 95,83% dos votos.

Formaram-se a partir daí dois blocos de tamanho aproximado, um à esquerda e outro à direita, aos quais se acresce o centro, um pouco menor –e inclinado para a direita.

Observando os resultados –a direita venceu quatros vezes, a esquerda, três, e o centro, uma–, bem como o comportamento do paulistano, Limongi e Mesquita destacam um aspecto no fundo óbvio, mas ao qual não se costuma dar a devida importância: "eleitores votam nas opções que os partidos lhes oferecem".

Dito de outro modo, o desfecho do pleito, "sobretudo quem vence as eleições, depende (...) da política de lançamento das candidaturas".

Embora muito ainda possa mudar, os últimos dias começaram a exibir a oferta de candidatos na capital paulista.

Já se disse que, pela capacidade de renovar perspectivas políticas, toda eleição é, no fundo, um exercício de esperança. Do jeito que a coisa vai, os paulistanos chegarão a 2016 quase sem motivos para sonhar com uma cidade melhor.


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