Folha de S. Paulo


Desfrutar o momento

Na final da Copa de 1998, no Stade de France, estava presente, como comentarista da ESPN Brasil, ao lado do excelente narrador Milton Leite, hoje no SporTV. Trinta minutos antes do jogo, saiu a escalação com Edmundo no lugar de Ronaldo. Ninguém entendeu. Poucos minutos depois, Ronaldo voltou. Todos sabem a história e o resultado. O jovem Zidane jogou demais, o que se repetiria em 2006, quando deu um show na eliminação do Brasil.

Na quinta-feira, a atuação do Brasil foi ainda melhor que as seis vitórias anteriores com Dunga. Mas ainda não dá para sonhar, expressão usada pelo jornal "L'Équipe", antes da partida, sobre o futebol brasileiro. O sistema tático é o mesmo com Felipão, mas a maneira de jogar é bem diferente. O time foi compacto, marcou e defendeu com muitos jogadores, colocou a bola no chão, trocou muitos passes, desde a defesa, e usou a velocidade no momento certo.

Apesar do 7 a 1, do imediatismo de Dunga em só pensar na vitória e de Felipão ter tido também uma série longa de triunfos antes do fracasso, não podemos ficar constrangidos em reconhecer o que está bom. Não é proibido elogiar.

A França, sem seu craque meio-campista Pogba e sem Ribéry, excepcional atacante pela esquerda, que também não jogou na Copa, perdeu a força ofensiva.

A necessidade de cada atleta recuperar seu prestígio e o do futebol brasileiro tem sido uma grande vantagem nos amistosos. Se a Copa fosse todo ano, o Brasil seria fortíssimo candidato. Dizer que os atletas têm jogado por Dunga, que os do Corinthians jogam por Tite e que os do São Paulo e os da seleção na Copa não jogam por Muricy e por Felipão é mais um dos chavões para explicar derrotas e vitórias. Os bons profissionais jogam por eles mesmos, por suas equipes, por suas carreiras, por prestígio e por vitórias.

Hoje, o bom time do Chile está louco para ganhar do Brasil. Sempre atuam bem e perdem. Um dos motivos é o fato de marcarem mais à frente e deixarem muitos espaços para Neymar e os velozes meias brasileiros.

Nos últimos dias, houve várias partidas amistosas e pelas eliminatórias da Eurocopa. Estamos em 2015, e não há mais razão para desculpa de ressaca dos alemães. Mas há uma grande justificativa, a ausência dos sete destaques da Copa e do futebol mundial (Neuer, Boateng, Hummels, Lahm, Kroos, Schweinsteiger e Müller). Tem tudo a ver com o 7 a 1. Dos sete, apenas Lahm se aposentou da seleção, mas, por ser tão bom e por continuar em forma, não ficarei surpreso se, antes do Mundial de 2018, a chanceler Angela Merkel pedir para ele jogar.

O time titular da Alemanha é nitidamente superior ao do Brasil, por causa dos sete excepcionais jogadores, mesmo não tendo um Neymar, mas o reserva do Brasil é melhor. Com exceção de Neymar, faz pouca diferença escalar os titulares ou os reservas nas demais posições. Já na Alemanha, a diferença é enorme.

O futebol mundial vive uma grande fase, como vimos na Copa. Há um grande número de jogadores espetaculares. Temos de desfrutar este momento e as boas atuações do time brasileiro, mesmo que ainda não dê para sonhar.


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