Folha de S. Paulo


Brasil, acorde!

No país das propinas, das patotas e da troca de favores, seria inimaginável que não acontecesse o mesmo nos esportes. Pequenas mudanças positivas, que ocorreram nos últimos anos, são insignificantes, diante de graves problemas sociais, morais e na estrutura do futebol.

Encerra-se hoje o Brasileirão. Melhoraram os gramados, os estádios, a tentativa de jogar um futebol mais compacto, em espaços menores e com mais troca de passes. Mas continuam muitas deficiências, individuais e coletivas, mesmo no bicampeão brasileiro.

Nas duas vitórias do Atlético sobre o Cruzeiro, Dátolo e Tardelli marcaram os volantes que, sem mobilidade e com pouco talento, não pegaram na bola. Os zagueiros, com os volantes marcados e sem saber dar bons passes, se limitaram a dar chutões. A bola ia e voltava. Isso ocorreu, com frequência, em todas as equipes.

Escuto, todos os dias, por saudosismo e/ou desconhecimento, que falta ao futebol brasileiro um grande meia, um camisa 10. Oscar, Willian e Lucas não são craques, mas têm jogado muito bem na Europa. No Brasileirão, vimos vários excelentes meias. O que mais falta é um excepcional meio-campista, que jogue de uma intermediária à outra, chamado, no Brasil, de segundo volante. É o jogador, hoje, mais importante de uma equipe, pois é o que mais fica com a bola. Existem uns 500 bons. Falta o craque.

Se eu fosse treinador, mostraria vídeos, todos os dias, durante um longo tempo, a todos os jogadores de meio-campo, das categorias de base e principal, para ver e aprender como atuam os maiores meio-campistas do mundo (Yaya Touré, Kroos, Modric, Schweinsteiger e outros).

Se as maiores qualidades do Cruzeiro são o elenco e o jogo coletivo, não há razão para ter cinco jogadores na seleção da CBF. É difícil escolher o melhor do campeonato e o melhor de algumas posições, pelo equilíbrio técnico. Entre os que mais se destacaram, cito: Fábio, Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart, do Cruzeiro, Victor e Tardelli, do Atlético, Ganso e Souza, do São Paulo, Aránguiz e D'Alessandro, do Inter, Marcelo Grohe e Barcos, do Grêmio, Gil e Guerrero, do Corinthians, Conca e Fred, do Fluminense, e Jefferson, do Botafogo. Marcelo Oliveira, pela seriedade, tranquilidade, conhecimento técnico e competência para comandar um grupo, sem pose e sem autoritarismo, foi o treinador e gestor do ano.

A novidade entre os treinadores é o experiente Levir Culpi. Ele disse, no programa Bola da Vez, da ESPN Brasil, que aprendeu muito no Japão, na organização, na disciplina e também na maneira de jogar. Os japoneses, individualmente, estão muito longe dos brasileiros. Mas, há muito tempo, atuam de uma maneira moderna, compacta, o que, só agora, começa a ser feito por aqui. Acorde, Brasil!


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