Folha de S. Paulo


Maluco da peteca exporta método de favela para a França

Tasso Marcelo/AFP
Sebastião Dias de Oliveira comanda atividades no clube Miratus

RIO DE JANEIRO - Ele já foi catador no lixão de Gramacho, interno de um orfanato público e pedreiro. Há 18 anos, Sebastião Dias de Oliveira, 51, foi chamado de maluco ao começar a ensinar dentro de uma favela no Rio um esporte desconhecido, uma mistura de tênis com peteca.

Desde então, ele mudou o destino de dezenas de jovens na comunidade, revelou uma série de atletas de ponta para o badminton brasileiro e ergueu o único centro de treinamento de alto nível dentro de uma favela.

No mês passado, o Brasil teve pela primeira vez na história dois atletas disputando os Jogos Olímpicos no badminton. Os dois (Ygor e Lohaynny) saíram da Chacrinha.

O sucesso do ex-catador do lixão chamou a atenção. Em agosto, o ministro do esporte da França fez questão de visitar a Associação Miratus de Badminton, nome dado por Sebastião ao seu clube.

No próximo mês, ele vai assinar uma parceria com a federação francesa. Os europeus querem conhecer a metodologia de ensino criada pelo brasileiro, o "bamon", baseada no samba e usada para ajudar os atletas a terem mais agilidade.

"O que quero é mostrar que existe outra realidade para esses jovens. Enquanto em outras áreas o pessoal quer andar de moto roubada ou fazer um funk para o dono do morro, a galera aqui sonha com Olimpíada", diz o ex-pedreiro, que coleciona dezenas de títulos continentais e panamericanos.

Até o final do ano, Sebastião vai replicar a sua experiência para outras comunidades. Uma parceria pública vai viabilizar a construção de quadras da modalidade em favelas, selecionar os melhores e promover "batalhas". "O meu sonho é colocar jovens de comunidades rivais para formar duplas nesses campeonatos. O talento existe. Basta apenas procurar", afirmou. Que apareçam mais malucos como Sebastião.

Tasso Marcelo/AFP
Jovens participam de projeto que ensina badminton na favela da Chacrinha

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