Ter cozinhas da grife Kitchens num tríplex de frente para o mar no Guarujá e num sítio com laguinho e piscina em Atibaia pode muito bem definir um típico coxinha paulista.
O que enquadraria o ex-presidente Lula na categoria de salgadinho mais odiada pelo PT se ele fosse dono ou usufrutuário das cozinhas e dos imóveis.
Petistas quando aumentam a renda tendem a adquirir hábitos coxinhas. Frequentam os melhores restaurantes, moram nos melhores bairros, passam férias no sul da Bahia, ganham muito mais dinheiro que a média dos trabalhadores. Fazem tudo o que um coxinha faz, e têm todo o direito de fazê-lo, mas odeiam os coxinhas.
Não só odeiam, como os acusam sempre que podem de quererem o mal dos pobres, o pior para o Brasil. E depois processam quem os hostiliza nos reservados templos da gastronomia coxinha paulistana. Hostilizar em cadeia nacional de rádio e TV, como na campanha de Dilma que acusava coxinhas de tirarem comida da mesa dos pobres, tudo bem.
"Combustível nesse processo de achincalhamento (de Lula) é os coxinhas não admitirem que um operário possa comprar um tríplex", disse um dos advogados de acusação de Lula, Nilo Batista, em entrevista à Folha.
O combustível do desgaste de Lula obviamente não tem relação com os coxinhas, mas com as investigações da Justiça e da imprensa que revelam as relações íntimas do petista com empresas condenadas ou processadas por corrupção bilionária no seu governo.
As revelações até aqui deixaram Lula e o PT sem chão e sem discurso. Seus advogados e defensores não explicam nada.
O posicionamento surrealista do PT e do governo, de dizer que não só apoiam as ações anticorrupção da Justiça como são seus fiadores, está sendo substituído por ataques cada vez mais fortes às investigações. A defesa preferida do PT sempre foi o ataque _ estão desrespeitando o Lula, querem o mal do povo brasileiro, não admitem um operário bem-sucedido, isso tudo acontecia no passado e ninguém falava nada.
O argumento de que o PT e Lula são perseguidos por coisas que sempre ocorreram no Brasil é quase uma reivindicação do direito adquirido de ser corrupto na política brasileira.
Mas é justamente isso que está sendo ameaçado como nunca antes pelas investigações. E no meio do caminho tem o Lula. Tem o Lula no meio do caminho.
O maior político da história contemporânea brasileira, vencedor de quatro eleições presidenciais, entrou na mira da maior ação contra a epidêmica corrupção no país.
Militantes dos chamados movimentos sociais já prometem manifestações diante de tribunais que convocarem Lula a depor como investigado.
A esquerda brasileira pode em breve ter de escolher entre defender as instituições do país ou seu máximo líder. Será seu momento de verdade.