Folha de S. Paulo


O abraço de afogado da esquerda

Quanto mais se sabe, mais difícil fica a situação do PT e do governo Dilma 1. Os áudios vazados das reuniões do Conselho de Administração da Petrobras são reveladores. Mostram claramente a ação política (e devastadora) do governo na gestão da empresa. "On the record".

São um presente para os advogados dos acionistas da estatal que recorreram à Justiça americana em busca de compensação por se sentirem lesados pelo tipo de ação que os áudios materializam. Até Guido Mantega, ao presidir o conselho da empresa em nome do governo, falava grosso.

Sempre temos seres imutáveis a argumentar que uma estatal deve fazer "política anticíclica" e ajudar o governo como indutor da economia. Mesmo diante de tamanha catástrofe, são capazes de dizer que se fez o que deveria ter sido feito. E que o que não deveria ter sido feito, os outros também fizeram.

É por isso que Lula está recorrendo a esse grupo ponta firme de esquerdistas, que não se importam com a realidade, para escorar a si e ao seu partido depois dos anos loucos e a ressaca violenta.

O anúncio da delação premiada de um dono de construtora fecha círculo de delatores impressionante, que cobre praticamente toda a cadeia da corrupção. Falta só um político, um Jefferson.

Os processos e investigações levarão anos, a sangrar o governo, o partido e seus principais dirigentes. E provavelmente se expandirão para o setor elétrico e outras áreas.

Não vai dar para o PT seguir dizendo que defende e estimula o combate à corrupção quando as investigações chegam cada vez mais perto das grandes estrelas do partido.

No seu panelado programa de TV, o PT prometeu: "Qualquer petista que ao final do processo for julgado culpado será expulso". Indagados depois se a regra valeria para os já condenados do mensalão e ainda no partido, dirigentes petistas disseram que "nenhuma lei" retroage a fim de prejudicar pessoas. Ou seja, o partido vai ser rigoroso com os corruptos, mas só a partir de agora (ou melhor, ao fim dos demorados processos).

A população não compra essa conversa. Como não compra mais a conversa de que o PT levou a classe operária ao paraíso quando estamos em plena recessão, com inflação e desemprego em alta.

Está claro até para os que não querem ver que os últimos quatro anos foram perdidos, um fato gravíssimo num país com tanto a fazer e que já perdeu décadas, séculos. Se FHC mais Lula criaram a visão de que o Brasil encontrara seu rumo como democracia capitalista, Dilma ressuscitou o Brasil que não dá certo, que desperdiça recursos, que desdenha da população, que é imoral.

Lula, o sobrevivente, sabe de tudo isso e retorna às bases para se defender. Vem falando a plateias fechadas de sindicalistas e outros públicos pacificados. E conta com a, digamos, boa-fé dos eternos esquerdistas, que acham que é melhor um governo de esquerda que destrói a economia do país a qualquer outro governo.

A esquerda brasileira, o que restou dela, se não despertar do pesadelo, pode acabar dando um abraço de afogado no PT, como a direita deu seu abraço de afogado na ditadura.


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