Folha de S. Paulo


A era das revelações

Vivemos a era das revelações. Numa semana só tivemos o panelaço, a reação ao panelaço, o depoimento histórico de Pedro Barusco, as vaias, as manifestações do MST, a inflação a 7,7%, o dólar a R$3 vírgula sei lá. E ainda teremos protestos nacionais na sexta e no domingo. Sem falar das próximas 200 semanas eletrizantes que restam do mandato de Dilma.

A conjunção de crises econômica, política e social, todas gestadas pelo próprio governo na sua primeira encarnação, testarão os limites da democracia –pode alargá-los ou estreitá-los.

Acho que sairemos melhor do que entramos desse buraco porque Dilma 1 feriu, mas não matou. Pode servir de imunização (ela não nomeou o Joaquim Levy?). E seu governo deixa um legado fundamental –mobilizou politicamente a elite do país.

Que saiu às varandas batucando panelas com vigor cívico inédito. Bateu no nervo petista-esquerdista, que reagiu com ódio de classe tipo Marilena Chauí, acusando quem protestava contra o governo de odiar "o povo" –como se o povo fosse o governo e o governo fosse o povo.

Aliás, sempre que ouço a palavra ódio lembro da professora Marilena Chauí, guru fundadora do PT, que em 2013 disse, para aplausos da plateia e risos de Lula: "Eu odeio a classe média. A classe média é o atraso de vida. A classe média é estupidez. É o que tem de reacionário, conservador, ignorante, petulante, arrogante, terrorista. A classe média é uma abominação política, porque ela é fascista, uma abominação ética, porque ela é violenta, e ela é uma abominação cognitiva, porque ela é ignorante".

Vamos contextualizar que isto aqui não é panfleto: Chauí falava que não gostava que a "nova classe média" fosse assim chamada porque, na velha tradição marxista (aquela teoria pensada no e para as condições do norte da Europa no século 19), a classe média era considera inimiga do "povo".

No Brasil, as classes A e B são compostas por cerca de 30 milhões de pessoas. É muita gente para Marilena e seus seguidores odiarem, ofenderem e tentarem calar no grito.

Um colunista esportivo, por exemplo, fez um Datafolha instantâneo e concluiu que quem foi às varandas bater panela não era contra a corrupção epidêmica, mas "contra o incômodo que a elite branca sente ao disputar espaço com esta gente diferenciada que anda frequentando aeroportos, congestionando o trânsito e disputando vaga na universidade".

COMO?

O PT não sabe mais o que dizer, não tem discurso. João Santana conseguiu eleger Dilma de novo, um milagre, mas nem sua mágica resiste à dura realidade. A campanha mentiu tanto que agora o governo não consegue parar de mentir.

O discurso do Dia da Mulher foi um tiro no tímpano. Disse Santana, quer dizer, Dilma: o colapso econômico é culpa dos outros; a corrupção somos nós que estamos investigando. Não cola mais.

Depois veio Barusco, na melhor tradição brasileira de heróis sem caráter, resgatar a honra das CPIs, com um demolidor depoimento de seis horas no Congresso iluminando o submundo que governa o Brasil num de seus principais redutos. E muito mais está por vir.

A pergunta não é por que as pessoas estão a protestar nas varandas e nas avenidas centrais. A pergunta é por que alguns tentam defender o status quo.

Outra pergunta: Quem é reacionário hoje no Brasil?


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