Folha de S. Paulo


Venezuela mostra o caminho para o Brasil

O ciclo da esquerda sul-americana está chegando ao fim. O socialismo do século 21 não sobreviverá à sua segunda década. A dúvida é se acabará com grande estouro ou grande suspiro.

No Brasil, nossa esquerda foi, até aqui, muito melhor que a deles. Abraçou o mercado e fez populismo com capitalismo. Governou com ricos e pobres. Melhorou a vida de ricos e pobres.

O Brasil cresceu econômica, social e institucionalmente com a transição do PSDB para o PT. A alternância de poder melhora e define a democracia.

Não dá para comparar Lula com Chávez, Correa, Kirchners, Morales. Mas depois de Lula veio Dilma, e aqui estamos. Numa escalada de incerteza, instabilidade, insatisfação e intolerância que pode piorar muito, derrotando a todos.

A briga de rua entre petistas e opositores no Rio de Janeiro, durante ato "pró-Petrobras" do PT, foi um trailer terrível do que pode vir por aí.

Contra o desejo da imensa maioria centrista, não faltarão irresponsáveis dos dois lados dispostos a resolver as coisas na "porrada", como conclamou o líder petista do Rio.

Desde que chegou ao poder, o planeta PT nunca esteve tão fraco. Por isso, este é o grande teste do partido.

As eleições foram um mau presságio. A campanha petista mentiu tanto que agora não consegue parar de mentir.

O país maravilha do marketing esfarelou à luz do sol e do remédio amargo do doutor Levy. As promessas da presidente e do PT de combate duro à corrupção são logo seguidas por ataques à maior investigação contra a corrupção da história do país.

Nada está colando.

O ato "pró-Petrobras", na verdade um ato pró-PT, foi um fiasco. Tirando Lula, dos prometidos "notáveis" não foi ninguém muito notável (aliás, onde anda Chico Buarque?).

O governo Dilma age como se tivesse perdido as eleições menos de cem dias depois de começar o segundo mandato. O tradicional balanço dos primeiros cem dias de governo já tem título: os piores primeiros cem dias de governo da história do país. Nem FHC 2 foi tão mal em tão pouco tempo.

A megabase governista no Congresso evaporou. O PMDB está com um pé na oposição. O PT também. Enquanto o PMDB puxa a agenda para o centro, o PT combate o pilar principal do início do mandato: o ajuste fiscal.
Dilma, uma tecnocrata levada à Presidência pelo livre arbítrio de Lula, não consegue liderar nem lidar com forças tão contraditórias. A resultante é uma interrogação.

O debate é fundamental. O protesto é fundamental. Mas a estabilidade do sistema democrático-capitalista é o mais fundamental, a base sobre a qual o resto evolui. Foi com ele que chegamos, a duras penas, até aqui.

É triste ver o colapso econômico e político da Venezuela. Trevas que ao menos para o Brasil trazem luz. É uma lição clara, inequívoca, do caminho que não queremos seguir.


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