Folha de S. Paulo


Não sobrou pedra sobre pedra

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, foi à guerra da comunicação. E como sempre acontecerá quando o PT travar esta guerra que lhe resta, seu discurso será inconsistente, farsesco. Aliás, como o discurso de todos os partidos políticos brasileiros.

O que a ditadura tem a ver com as críticas feitas ao encontro que Cardozo teve com um advogado de uma das construtoras investigadas pela Polícia Federal? Sua entrevista-defesa publicada nesta Folha, como a que "Veja" publicou, é quase uma confissão de que algo errado ele fez, mesmo que não tenha feito.

A maior bordoada veio do implacável Joaquim Barbosa, algoz do PT que, sem a toga de Batman, ficou mais livre, leve e bem humorado na sua nova vida pública: o Twitter.

Barbosa se afinou bem nos 140 caracteres da rede e acumula 180 mil seguidores. Mas seus tuítes alcançam e pesam muito mais. Primeiro veio a porrada: "Nós, brasileiros honestos, temos o direito e o dever de exigir que a Presidente Dilma demita imediatamente o Ministro da Justiça." Depois, a explicação: "Se vc é advogado num processo criminal e entende que a polícia cometeu excessos/deslizes, vc recorre ao juiz. Nunca a políticos!" Depois, o deleite: "Cidadão livre". Livre das amarras do cargo público. Cidadão na plenitude dos seus direitos, pronto para opinar sobre as questões da "Pólis". Dá para sentir como é boa a aposentadoria de juiz supremo.

Barbosa é um vencedor nos embates com o PT e por isso herói de boa parte do país. O efeito prático dos ataques do PT contra ele foi o de aumentar sua resolução. O partido agora tenta fustigar o juiz da Lava Jato, Sérgio Moro, que parece tão implacável quanto Barbosa. Enquanto isso, a presidente diz que é seu governo que promove a caça aos corruptos. Como dizia que os tucanos aumentariam os juros e mexeriam nos benefícios sociais e trabalhistas.

Ontem o próprio Moro se manifestou sobre as conversas furtivas do ministro da Justiça. E, como Barbosa, a quem citou na reprimenda, não aliviou: "Intolerável, porém, que emissários dos dirigentes presos e das empreiteiras pretendam discutir o processo judicial e as decisões judiciais com autoridades políticas. Mais estranho ainda é que participem desses encontros, a fiar-se nas notícias, políticos e advogados sem procuração nos autos das ações penais", escreveu o juiz.

O mensalão foi o primeiro grande desastre do PT. O segundo foi Dilma. O terceiro é o petrolão. Pelé não sai do banco neste momento em que a defesa do time vaza por todos os lados. O silêncio de Lula choca. E o que o PT fala, não cola.

No governo, só Joaquim Levy faz sentido. E ele não é do PT. O PT é contra ele.

O partido começou a perder a fala nas manifestações de 2013, que rasgaram a fantasia do país do nunca antes. Seu discurso atingiu um cinismo intoxicante nas eleições e agora esfarela diante do petrolão, da crise econômica autoinfligida, da presidente "gauche", da derrocada do socialismo do século 21 na vizinhança.

Não sobrou pedra sobre pedra.

Marta tem razão. Ou o PT muda ou não haverá marketing nem Joaquim Levy que dê jeito.


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