Folha de S. Paulo


Cobertura sobre atentados deve causar choque e repulsa

Boris Horvat/AFP
Homenagem neste sábado (16) em Nice às vítimas do atentado que matou mais de 80 pessoas na semana passada
Homenagem neste sábado (16) em Nice às vítimas do atentado que matou mais de 80 pessoas na semana passada

Uma das mulheres está apenas de calcinha e sutiã, as roupas rasgadas provavelmente pela tentativa mal-sucedida de ressuscitação dos paramédicos. O corpo de outra pessoa abre um espacate antinatural, como uma boneca com as pernas quebradas. Ouvem-se vozes desesperadas pedindo ajuda.

Há pedaços de corpos e sangue.

Gravado por uma testemunha minutos depois do ataque terrorista de Nice, na França, o vídeo tem 55 segundos, revira o estômago e revolta.

Mostra o rastro da carnificina deixado pelo tunisiano Mouhamed Bouhel e seu caminhão frigorífico, que mataram 84 pessoas -entre as quais 10 crianças, uma delas uma menininha brasileira de seis anos- e deixaram dezenas entre a vida e a morte.

Em momentos assim, em que a notícia se impõe, mas as cenas chocam demais, o comando da Redação da Folha costuma se reunir para decidir se exibe ou não o conteúdo aos seus leitores. A ideia desses encontros é aprimorar políticas editoriais.

No caso em questão, a opção foi colocar o vídeo no ar, com um aviso de que trazia imagens agressivas.

Diferentemente da foto impressa na Primeira Página ou estampada nas páginas iniciais das versões digitais, à qual o leitor é submetido passivamente, o vídeo exige que ele aja voluntariamente, ao clicar no "play", daí o aviso.

Pareceu importante mostrar os efeitos de mais um ato de, "sem dúvida, um terrorista ligado ao islamismo radical", na definição do primeiro-ministro francês, Manuel Valls.

Ações como a do tunisiano vão solapando o relativismo reinante desde o fim da Segunda Guerra, talvez a última vez em que o mundo conseguiu identificar com clareza o certo e o errado e decidir de que lado estava.

O vídeo de 55 segundos não será o último. "Lobos solitários" que miram "soft targets" (alvos vulneráveis) como os da quinta-feira em Nice infelizmente devem se tornar cada vez mais comuns. É importante que continuem causando choque e repulsa.


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