RIO DE JANEIRO - Pesquisa do Datafolha descobriu que 72% dos moradores do Rio querem ir embora da cidade por causa da violência. O Data ouviu 812 pessoas na sequência dos recentes acontecimentos na favela da Rocinha, em que uma briga de facções fechou vias na zona oeste, levou medo a trechos da zona sul e exigiu as Forças Armadas na comunidade. Se essa geografia não lhe diz nada, imagine um conflito em Paraisópolis que levou medo ao Morumbi e a partes do Itaim.
O Rio tem hoje 6,32 milhões de habitantes. Setenta e dois por cento são 4,55 milhões. Não discuto os resultados da pesquisa, mas torço para que não se concretizem. Imagine quatro milhões e meio de cariocas se mudando de repente para outra cidade —nem mesmo São Paulo poderia absorver tanta gente. E o fuzuê que isso iria causar? O carioca tem hábitos que só pode exercer no Rio, como pedalar na Lagoa, correr nas Paineiras, jogar frescobol na praia do Diabo, dar um mergulho na hora do almoço e ser feliz sem dinheiro. Como fazer isso em outra cidade sem ser chamado de vagabundo?
Como me coloco entre os 28% que não deixariam o Rio de jeito nenhum, terei de me contentar com o que resta dele. O que, por sorte, não é pouco. Há dias, na semana da crise, tivemos o Rock in Rio, em Jacarepaguá, e a Semana Design Rio, no Píer Mauá. Neste momento, estamos em pleno Festival do Rio, o certame internacional de cinema. Há gente do mundo inteiro nesses eventos —todos vivos, por enquanto.
Neste e no próximo fim de semana, a cidade abrigará grandes shows de Beth Carvalho, Zeca Pagodinho, Nei Lopes, Monarco, Nelson Sargento e Wilson Moreira, além de cem rodas de samba. Já se sabe que o próximo Réveillon do Rio terá um palco móvel em forma de pandeiro. E, até agora, há 486 blocos inscritos para o Carnaval.
Os 72% não sabem o que perderão.