Folha de S. Paulo


Quem morre com mais brinquedos

RIO DE JANEIRO - Na esteira das recentes comemorações do centenário de Frank Sinatra, caiu-me aos olhos seu testamento, feito em 1991, quando ele tinha 75 anos. Sinatra morreu em 1998, aos 82, e seu patrimônio foi, claro, objeto de brutal disputa entre os herdeiros. De um lado, os filhos Nancy, Frank Jr. e Tina, todos do primeiro casamento; de outro, a quarta e última mulher, Barbara, com quem ele passou os 22 anos finais.

Dinheiro, casas, carros, obras de arte, ações, investimentos, participações e o que mais significasse liquidez –boa parte foi para Barbara, o que revoltou os filhos. Mas os royalties sobre seus discos na Victor, Columbia, Capitol e Reprise, o material inédito (vide a caixa que acaba de sair, "A Voice on Air, 1935-1955", com quatro CDs de programas de rádio), os concertos gravados e nunca lançados (como o do Maracanã em 1980), o uso do nome (e o nome Sinatra avaliza desde molhos para macarrão até carros) –ficou basicamente com os filhos, o que revoltou Barbara.

Generoso, Sinatra deixou dinheiro para sua primeira mulher, Nancy Barbato (por sinal viva até hoje, aos 98 anos) –mas não para a segunda, Ava Gardner, que morrera em 1990, nem para a terceira, Mia Farrow, então casada com Woody Allen.

Sabe-se que Sinatra legou para Frank Jr. sua grande coleção de partituras –ótimo, alguém tinha de tomar conta delas. Mas, e sua coleção de discos, de todos os formatos e épocas, que os amigos lhe davam autografados? E a de chapéus? E a de prendedores de colarinho? E seus isqueiros, que fim levaram?

O mais importante para mim, no entanto, continua um mistério. Quem ficou com a fabulosa coleção de trenzinhos, que tomava todo um salão em sua casa no deserto? Por causa deles, Sinatra dizia que "quem morre com mais brinquedos ganha". Pois ele ganhou. Mas quem levou?


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