Folha de S. Paulo


Robô aloprado

RIO DE JANEIRO - Um operário da Volkswagen em Baunatal, a 100 km de Frankfurt, na Alemanha, foi morto por um robô. Entrou na jaula dos robôs para cuidar da manutenção de um deles –sim, eles têm de ser mantidos dentro de uma gaiola de segurança– e o bicho parece ter se irritado com o procedimento: atingiu o operário no peito e prensou-o contra uma placa metálica. O rapaz foi levado com vida para o hospital de Kassel, mas não resistiu. Tinha 22 anos.

Desde que foram inventados pelo escritor tcheco Karel Capek na peça "R.U.R.", de 1920, e ganharam esse nome, os robôs têm criado problemas. No texto de Capek, eles se rebelaram porque estavam insatisfeitos com a sua condição sub-humana. E olhe que, ao contrário dos robôs mecânicos, sujeitos a bater o pino, os de Capek eram feitos de matéria orgânica sintética e se pareciam com os humanos –podiam até namorar. Robôs são assim, não se contentam com nada.

Por via das dúvidas, Isaac Asimov, homem da ciência e da ficção, criou em 1940 as leis da robótica. A primeira já dizia tudo: "Um robô não pode fazer mal a um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra qualquer mal". Mas essa lei não pegou. Hoje, um robô não se contenta em desempregar um trabalhador. Se lhe der na telha, mata-o.

O cinema criou robôs benignos e queridos, como o Robby de "Planeta Proibido" (1956) e os dois mocorongos de "Guerra nas Estrelas" (1977). Mas a única chance de eles serem replicados industrialmente e usados na vida real é para servir de cachorros eletrônicos.

As primeiras investigações na Alemanha sugerem que o acidente foi provocado por falha humana, não por defeito no robô. Eu sabia. Nas fábricas automatizadas, é politicamente incorreto culpar robôs por qualquer problema. O rapaz morreu, mas o robô aloprado não será desligado.


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