Folha de S. Paulo


Ameaça de encalhe

RIO DE JANEIRO - No Congresso do PT, em Salvador, na semana passada, o ex-presidente Lula deu uma monumental bronca nos correligionários e disse que o partido era mais eficiente no tempo em que os militantes tinham de vender camiseta, adesivo e estrelinha. Lula gostaria que eles voltassem a essa prática.

Não que o PT precise dos caraminguás gerados por essas vendas. Se há uma coisa de que seus tesoureiros nunca se queixaram foi de falta de dinheiro. É pelo espírito da coisa –para que as bases parem de dar ouvidos às mentiras da imprensa burguesa sobre a corrupção e os desastres na economia, e voltem a acreditar no partido. Afinal, 2018 está logo ali na esquina.

Mas aí é que mora o problema. No tempo em que o PT vendia adesivos, estrelinhas e camisetas, seus líderes vinham da passeata, da fábrica ou do sindicato, e eram aclamados pela massa nos pés-sujos. Hoje vêm das estatais, dos bancos e das empreiteiras, e, mesmo assim, são hostilizados nos restaurantes do Itaim. A Caracu com ovo, tomada com a barriga no balcão, foi substituída pelo Romanée-Conti em caves climatizadas.

No passado, os mentores históricos do PT tinham tempo para ensinar os companheiros a conduzir uma greve, melar uma votação ou queimar um adversário. Depois, ficaram muito ocupados vendendo consultoria sobre como cortar caminhos dentro da Petrobras, infiltrar alguém numa diretoria ou a quem oferecer propina para ganhar uma concorrência. Ou dando palestras de hora e meia por R$ 300 mil.

O PT dos adesivos, camisetas e estrelinhas era o de Antonio Candido, Sérgio Buarque e Mario Pedrosa. Depois tornou-se o de Dirceu, Genoino, Delúbio. E, hoje, é o de João Vaccari, Henrique Pizzolato, João Paulo Cunha, Rosemary Noronha, André Vargas, Paulo Okamotto. Que nível. Os adesivos, camisetas e estrelinhas ameaçam encalhar.


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