Folha de S. Paulo


Dois Mundos

RIO DE JANEIRO - A historiadora Anita Leocádia discordou do livro "Luís Carlos Prestes - Um Revolucionário Entre Dois Mundos", biografia de seu pai escrita por Daniel Aarão Reis e recém-lançada. Classificou-a de "anticomunista", repleta de "erros" e cheia de "fofocas, mexericos, intrigas e mentiras". Aarão Reis é um intelectual sério, também historiador, e dedicou cinco anos ao trabalho.

Mas Leocádia está fazendo a coisa certa. Se não gostou do livro, em momento algum ameaçou tentar proibi-lo. Apenas esbravejou e anunciou a publicação do seu próprio livro, no qual diz estar trabalhando há mais de 30 anos. Ótimo. A existência de duas alentadas obras sobre o mesmo personagem permitirá ao leitor cotejar as informações e tirar suas conclusões.

Talvez o desagrado de Anita se refira ao método. Seu livro tem sido descrito como uma "biografia política". Ou seja, tratará da trajetória pública de Prestes, envolvendo a histórica "Coluna" nos anos 20, a Intentona Comunista de 1935, suas relações com Getúlio Vargas em 1945, o golpe de 1964 e seu ostracismo dentro do Partido Comunista. Pelo visto, deixará de lado a vida pessoal do pai.

Mas uma biografia exige as duas águas –a pública e a pessoal–, ou não pode ser chamada de biografia. O que Leocádia classifica como "fofocas, mexericos e intrigas" deve referir-se a uma certa intimidade do biografado –tão sujeita à apuração quanto as glórias ou desditas de sua carreira profissional e tão importante quanto estas.

Enquanto isto, o cantor Roberto Carlos, mais uma vez, ostenta o peso de sua mão, ao obrigar a TV Globo a cortar de um filme a seu respeito uma passagem –admitida e narrada até pelos amigos– em que destratou e humilhou seu colega Tim Maia. Não é à toa que o chamam de "rei". Reina sobre papalvos, juízes e sobre a própria Globo.


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