Folha de S. Paulo


Cunha e o abuso da força

SÃO PAULO - O presidente da Câmara acostumou-se a usar a força para conseguir o que quer. Líder político de uma bancada suprapartidária muito forte, Eduardo Cunha mantém o governo sob intensa pressão, aplicando-lhe derrotas no varejo a fim de demonstrar o que pode aprontar no atacado.

Jogando assim, conseguiu, entre outras coisas, não apenas obter a cabeça de um ministro como também o inédito feito de poder anunciar publicamente a sua degola. Numa tacada só, naquele momento, Cunha demitiu Cid Gomes do Ministério da Educação e apequenou Dilma na Presidência.

O deputado peemedebista volta no momento suas baterias contra o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que ousou incluí-lo no inquérito do petrolão. A partir de um depoimento do doleiro Alberto Youssef, o procurador afirmou que existem "fortes elementos" contra Cunha no escândalo da Petrobras.

De acordo com a acusação, o deputado teria apresentado requerimentos na Câmara com o objetivo disfarçado de coagir empresas contratadas pela estatal a retomar pagamentos de propina ao PMDB. Cunha nega que tenha feito isso, mas, em vez de apenas se defender na Justiça como qualquer mortal, passou a pressionar Janot.

Por meio de aliados, pediu a quebra do sigilo telefônico do procurador-geral, bem como a sua convocação para depor na Câmara. Agora o ameaça com uma emenda constitucional que simplesmente proíbe a recondução de Janot ao cargo, cujo mandato termina em setembro.

Na época do mensalão, o PT fez algo parecido, indicando que poderia votar contra a aprovação de novo mandato para o então procurador-geral, Roberto Gurgel.

Acabou desistindo, temendo a repercussão do episódio na sociedade. Fortalecido politicamente e apoiado por gente que também é alvo de investigações, Cunha terá o mesmo freio?


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