Folha de S. Paulo


Nossa única chance

A política brasileira passa a focar as eleições de 2018. Políticos e governantes, que vêm nos últimos anos dedicando-se exclusivamente a fugir da Justiça, agora incorporam em seus objetivos as estratégias necessárias para serem reeleitos.

Para quem teme, o jogo de 2018 será diferente dos outros anos. O objetivo não será crescer politicamente, mas manter privilégios a qualquer custo. Ser tratado como brasileiro comum, sem foros e imunidades, é arriscado demais para quem está com culpa de sobra no cartório.

Isso tem trazido a discussão política para novos focos. Quando se fala sobre Doria, o assunto não é a administração da cidade de São Paulo, para o qual foi eleito, mas sua estratégia eleitoral para 2018. O mesmo vale para Alckmin e Meirelles.

A eleição presidencial domina as conversas e o noticiário, mesmo que a 11 meses de distância. Institutos de pesquisa fazem suas avaliações semanais sobre quem sobe, quem desce, quem aparece. Semanalmente o país tenta projetar seu futuro com base nos nomes mais prováveis para o cargo máximo da República, como se o destino do Brasil dependesse apenas dele.

O Congresso brasileiro acomodou-se nas piores entranhas do presidencialismo. Para não correrem o risco de perderem potenciais eleitores, parlamentares não tomam o risco de propor as mudanças necessárias para o desencalhe do país. Aguardam tranquilamente os projetos vindos da Presidência, perante os quais alavancam seu poder, barganhando verbas, cargos e favores. Dissociam-se do ônus das reformas, atribuindo o custo político apenas ao presidente.

Em vez de proporem legislação nova, moderna, inovadora, que destrave o Brasil do passado a que está preso, maximizam capital político. Não são legisladores. São sequestradores, que mantêm o Executivo e o povo como reféns. O refém presidente fica encastelado em seu palácio. E o refém povo é obrigado a pagar impostos para alimentar essa máquina suja e ficar com as migalhas que sobram.

O pior é que, ao não exercerem o seu mandato de adaptar nossas leis à realidade do país e do mundo, os parlamentares condenam o povo à prisão perpétua no xilindró da injustiça social.

Registro em uma linha ressalva às poucas e honrosas exceções.

Enquanto as conversas e análises giram em torno da Presidência, deixa-se de lado o assunto mais decisivo para a próxima década: a renovação do Congresso. Sem um novo Congresso, a chance de mudarmos o país é zero.

Vide o governo Temer. Num difícil e temporário exercício, deixemos de lado seu total fracasso ético e foquemos na agenda reformista que tentou emplacar. Ora, se o presidente "com maior capacidade de interlocução da história" não foi capaz de levar o Congresso a aprovar nem um terço das reformas necessárias para o país, quem o será? Difícil imaginar essa pessoa, assumindo manutenção do regime presidencialista e composição parlamentar similar à atual.

Nesse desafio da renovação do Congresso, cada um de nós tem seu papel, e ele não se restringe ao voto em 7 de outubro de 2018.

Precisamos nos certificar que os atuais vampiros da República não sejam reeleitos e preparar novos nomes para substituí-los. Precisamos divulgar tudo que lembramos sobre os indivíduos que, pagos por nós para trabalhar para a nação, legislaram em causa própria. Esses nomes, que começam pelos deputados e senadores do seu Estado, são os mais importantes para as conversas de corredor e mesas de refeição. Informe-se do que fizeram e do que não fizeram e espalhe para todos os seus amigos. É a nossa única chance.


Endereço da página:

Links no texto: