Folha de S. Paulo


Há 20 anos, a foto que compartilhou uma revolução

Reprodução
The first mobile phone picture, of newborn Sophie Kahn, in June, 1997 Foto: reproducao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
A primeira foto tirada com um celular, da recém-nascida Sophie Kahn, em junho de 1997

SÃO PAULO - Foi outro dia, mas já faz 20 anos. Um pai queria mostrar o quanto antes a seus amigos as imagens do recém-nascido. Filho de uma sobrevivente de Auschwitz e imigrante francês sem permissão de trabalho na Califórnia, Philippe Kahn conseguiu juntar as peças. Que, no caso, eram três: uma câmera digital, um computador e um celular.

Ainda na maternidade, conectou os aparelhos e construiu o embrião do telefone com câmera. Obviamente ele não tinha ideia de que estava, com isso, inaugurando a era do compartilhamento instantâneo de imagens. Nem que essa prática se disseminaria a ponto de alterar a essência da fotografia, criada como meio de registro e agora cada vez mais uma ferramenta de comunicação direta.

Quando os celulares com câmera começaram a se espalhar pelo mercado, já nos anos 2000, teve início um sem-fim de discussões. Há quem diga que as pessoas vivem menos as experiências reais porque estão preocupadas em fotografá-las. Para outros, perdeu-se a paciência de esperar o momento certo de capturar a imagem. Alguns sentem saudades dos retratos grandes e impressos.

Estima-se que neste ano serão produzidas 1,2 trilhão de fotos digitais, algo como 160 imagens por humano. Servirão para demonstrar o crescimento de crianças, denunciar crimes, divulgar produtos —sem falar, claro, nas condenadas a virar selfies.

Um bocado sugestivo, como não, que a efeméride caia bem nesta semana em que a Magnum, mais famosa agência de fotógrafos do mundo, anuncia que vai aceitar investimento externo pela primeira vez em seus 70 anos de história, uma tentativa de sobreviver financeiramente.

Ela não foi a única arrastada pelo turbilhão da foto compartilhável. Depois do nascimento de sua filha, Kahn procurou executivos da Kodak e da Polaroid, um dia soberanas desse mercado, para discutir caminhos de seu achado. As duas empresas não lhe deram ouvidos e quebraram.


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