Folha de S. Paulo


Considerado o investimento público, Brasil não foi tão bem assim nos Jogos

Sergio Moraes/Reuters
Ask athletes what goes into Olympic gold medals, and they will likely say sweat and years of training. For Brazil's National Mint the answer is simpler: recycled silver. The 500-gram Olympic gold medals that athletes will be competing for in Rio de Janeiro are nearly 99 percent silver. They contain just 1.2 percent gold, mostly used as plating. The medals are the most sustainable in Olympic history. Much of the silver is recycled from old mirrors and X-ray plates. The gold is free of mercury, which is often used to separate gold from ore and can poison local ecosystems if not carefully disposed of. Nike, the winged goddess of victory in Ancient Greece, is minted on one side below the five Olympic rings, while the discipline for which the medal has been won is engraved along its edge. The other side bears the Rio 2016 logo. REUTERS/Sergio Moraes SEARCH
Medalhas de ouro, prata e bronze dos Jogos Olímpicos do Rio-2016

Se levados em conta o volume de investimento e o peso histórico do fator casa nos Jogos, o desempenho esportivo dos brasileiros nesta Olimpíada não é tão bom como faz crer o discurso oficial.

A questão importa porque há um gasto significativo de dinheiro público com um objetivo: ter um posto de destaque no quadro de medalhas.

É fácil a discussão escapar do foco porque entra na conta um grande componente emocional (afinal, quem é que não ficou feliz da vida quando Neymar acertou aquele pênalti histórico?). Existe também uma diversidade de critérios possíveis, em meio a realidades diferentes em cada modalidade. Com o nervosismo das disputas, acaba-se por esquecer qual a expectativa antes dos Jogos.

Vale tomar como ponto de partida a meta do governo e do Comitê Olímpico Brasileiro: ficar entre os dez primeiros pelo total de medalhas. O Brasil acabou em 13º, com 19 pódios. Isso ocorreu porque outros países tiveram mais medalhas do que o esperado? Não. Quem levou a desejada décima colocação foi o Canadá, com 22 pódios, menos do que o previsto pelo COB.

INVESTIMENTO PÚBLICO NO ESPORTE BRASILEIRO - No ciclo olímpico Londres-Rio

Em análises não oficiais, a distância entre expectativa e resultado é ainda maior. A mais famosa das previsões olímpicas, da publicação americana "Sports Illustrated", dava 20 medalhas para o Brasil, com 6 ouros (foram 7). A média das opiniões de jornalistas esportivos da Folha projetava 26 medalhas, conforme publicado em junho. A agência Associated Press estimava 29 medalhas.

Ao apontar que o Brasil não atingiu sua meta, a CNN disse que o país valoriza "qualidade e não quantidade", descrevendo como festejamos loucamente cada pódio –não é para menos.

A melhor colocação da história não é exatamente um feito espetacular se olhada em perspectiva. Qualquer país-sede tem um impulso. O nosso foi o menor de todos os últimos anfitriões. Houve só duas medalhas a mais do que em Londres, aumento de 12%.

Vínhamos de um patamar espetacular? Não. O grande salto brasileiro se deu na Olimpíada de 1996, a primeira de Carlos Arthur Nuzman no COB, quando pulamos para 15 medalhas. Desde então passamos os Jogos nessa toada, às vezes um pouco melhor, às vezes um pouco pior.

Em Atlanta-96, aliás, o Brasil ganhou as mesmas 15 medalhas que a Grã-Bretanha. Os britânicos fizeram então uma reorientação dos investimentos para galgar posições no quadro. No Rio, ultrapassaram a China e se tornaram o primeiro país-sede a melhorar nos Jogos seguintes.

O exemplo mostra que não é por falta de dinheiro que o Brasil não brilha. O gasto público dos britânicos no ciclo olímpico foi de R$ 1,5 bilhão, nem metade dos R$ 3,7 bilhões do Estado brasileiro. Como definiu o governo ao lançar o Plano Brasil Medalhas em 2012, tratou-se de "um novo patamar". É pela ótica desse gasto que o esporte de alto rendimento deveria ser avaliado, mais do que por curiosidades como rankings de renda média e população.

Só das loterias saíram R$ 700 milhões, conforme define a lei Piva, sancionada em 2001 e exemplo de que descontinuidade também não é o problema. Nuzman comanda o COB há 21 anos.

O mesmo governo que é rápido ao distribuir as cartas que financiam o esporte embaralha argumentos ao avaliá-lo. " [O número de finais] é o dado que considero mais importante, já que a medalha depende de outros fatores na disputa", afirmou o ministro Leonardo Picciani –como se o número de finais também não dependesse disso.

Em critérios mais específicos é possível encontrar pontos de sucesso e fracasso.

A festejar: o sucesso retumbante da aposta na canoagem, que rendeu três medalhas. Ou o progresso inédito em esportes de pouca tradição aqui, como esgrima, levantamento de peso e lutas.

No meio no caminho estão os os vôleis de praia e de quadra, mamutes da história olímpica brasileira. Na praia, a meta de quatro medalhas ficou pela metade. Na quadra, o masculino foi ouro, mas o feminino cumpriu o pior papel desde Seul-88.

Na coluna negativa aparecem modalidades historicamente importantes. O caso extremo é o do basquete: as duas duas seleções caíram na primeira fase, o pior desempenho já visto. Natação, sem medalha, e judô também ficaram aquém do desejado.

A vida adiante não vai ser mais suave do que agora. Destaque do Rio, a Grã-Bretanha prevê Jogos bem mais difíceis em Tóquio-2020, com a China renovada, a Austrália querendo reaparecer e um país-sede forte –"o que não tivemos aqui", segundo Bill Sweeney, chefe-executivo do Comitê Olímpico Britânico.

Chamada - Rio 2016


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