Para alguém que está longe e de fora das minudências quotidianas que marcam a contagem decrescente para a Copa do Mundo, é pouco relevante discutir quem é efectivamente responsável pelo cancelamento da mega-convenção de futebol Soccerex 2013, a meras quatro semanas da sua abertura no estádio do Maracanã.
A partir do momento em que o caso veio a público, o que interessa descobrir é se os alegados receios de "agitação civil", invocados como a razão por detrás da suspensão da iniciativa, são realmente fundados e, mais importante ainda, se a mesma "ameaça" --ou risco-- paira sobre a realização de outros grandes eventos esportivos (leia-se o campeonato do mundo de futebol do próximo ano).
Até agora não foi possível reconciliar as duas versões distintas oferecidas pelo pessoal da Soccerex e do Governo estadual como a justificação do cancelamento da convenção --se foi a organização, que não cuidou de garantir o financiamento do evento, ou se o Governo do Rio de Janeiro concluiu mesmo que não havia condições de garantir a segurança dos milhares de participantes do evento ou existiam indícios fortes de instabilidade para a ordem pública.
Naturalmente, nenhuma das partes sai bem desta controvérsia. Mesmo sem considerar a razão que pode assistir a um ou outro lado, o prejuízo está feito e é irremediável: do nada, e na pior altura, a discussão desviou para os boatos, as dúvidas, as incertezas, os medos, sobre a decisão e a capacidade de se organizar e concretizar com sucesso um projecto de grandes proporções no Rio de Janeiro em Novembro de 2013.
Não é, claro está, uma questão abstracta: todo este frenesim resulta do facto de estarmos a meses da Copa do Mundo e de o pessoal estar nervoso com a possibilidade de ter multidões na rua a gritar contra qualquer coisa --a polícia militar?, o Governo?, a Fifa?, as obras que foram feitas?, o dinheiro que foi mal gasto?, tudo e todos??
Tenho dúvidas que os esforços (louváveis) das autoridades competentes para dissociar a Copa do Brasil deste imbróglio da indústria do futebol tenham resultado inteiramente. Concordo com o director de Marketing da Fifa, Thierry Weil, que disse que este caso "não tem nada que ver nem terá nenhuma influência na organização da Copa do Mundo".
Mas esse não é o problema. A questão é que todas as notícias que se escreveram sobre o assunto, todas as referências e comentários que se fizeram do caso, além de pôr em causa a credibilidade brasileira, levantavam o fantasma da insegurança e instabilidade que tanto assusta os estrangeiros. A controvérsia da Soccerex 2013 pode bem ser, no grande devir do mundo, um episódio insignificante, mas no contexto actual, foi um balde de água fria que deixou muita gente arrepiada.