Folha de S. Paulo


8 de junho de... 2018

Você está lendo essa coluna hoje, 8 de junho de 2015. Mas, a confiar no que se propaga diariamente, estamos às vésperas de mais uma eleição presidencial. Temas em alta: haverá ou não reeleição? O voto será facultativo ou obrigatório? O mandato dos governantes vai durar quatro ou cinco anos? A plutocracia continuará dirigindo o país? A reforma política vai reformar os costumes políticos numa Constituinte ou o pessoal liderado por Eduardo Cunha, Renan Calheiros e gente do mesmo calibre irá "reformar a política" para deixar tudo como está, quando não piorar?

Que os temas acima são importantes ninguém pode negar. Problema: estamos a três anos de uma nova disputa eleitoral majoritária. E de hoje até lá, quem vai cuidar da lojinha? E como?

Acabamos de saber que planos de saúde foram autorizados a elevar mensalidades muito acima da inflação. O argumento é fantástico: alguns procedimentos, por "sofisticados", são muito caros. Um exemplo prático: tomografias, mesmo sem contraste, são consideradas pelos convênios exames de ponta. Exigem seis meses de carência. Há 30 anos, talvez fossem o estado da arte se comparadas a abreugrafias. Hoje, custam tanto quanto um relógio a quartzo na praça da Sé –menos pela lógica da ANS e dos planos de saúde.

O Banco Central e a troika econômica tupiniquim adoram essa melodia modernosa. E fazem a sua parte. Elevam os juros como se manejassem aquelas máquinas de remarcação de preços dos supermercados. O raciocínio da turma é igualmente fantástico: tudo estava errado, agora trata-se de consertar.

Vendem a ideia como normal. Afinal, o capitalismo é sinônimo de crises cíclicas. De tempos em tempos, destrói-se tudo para reconstruir depois. E segue o enterro. Dane-se o que fica pelo caminho: milhões de desempregados, famílias desesperadas, menos comida a cada refeição. Tal qual não se faz omelete sem quebrar ovos, não se acertam as contas sem sacrificar a vida dos... outros: este parece ser o pensamento vigente no governo. Quem diria.

Ah, mas daqui a dois, três anos, tudo ficará em ordem, projetam os teóricos do tal ajuste. De hoje até lá, paciência. Que se virem os que forem (ou já foram) para o olho da rua, professores que ganham menos do que ascensoristas, milhares de trabalhadores de empresas manipuladas por grandes acionistas como lavanderias de propinas.

Que a oposição comemore esse cenário, dá para entender. Nada como assistir ao serviço sujo feito pelos adversários e ainda posar de arauto de direitos sociais.

Difícil de compreender é observar partidos como o PT divididos diante do desmonte de escassas conquistas sociais. O congresso da legenda nos próximos dias talvez ofereça uma resposta. Só um lembrete: estamos em 2015, não em 2018.

GASOLINA NA FOGUEIRA

O governo Geraldo Alckmin brinca com fogo. A greve recordista dos professores, mesmo que termine por exaustão e contas a pagar, já deixou uma marca impossível de esconder. Assim como o descaso diante da falta d'água. O adiamento sistemático de obras anunciadas para amenizar o problema vai cobrar seu preço. Não há Alstom nem Siemens capazes de transformar uma torneira seca em chafariz.


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