Folha de S. Paulo


Cortina de fumaça

SÃO PAULO - O Brasil tem uma oportunidade inédita de romper com um esquema muito danoso para o seu desenvolvimento: o conluio entre as empreiteiras e os partidos políticos para superfaturar obras públicas.

Se for dissolvido o cartel das construtoras, acaba a história de estádio que custa o triplo do previsto. Isso é vital para elevar o investimento em um país tão carente de infraestrutura.

A Operação Lava Jato trouxe esperança de mudança efetiva ao colocar na cadeia executivos das empreiteiras e ao escancarar o esquema de desvio de recursos na Petrobras.

Nas últimas semanas, construtoras estrangeiras vem sondando empresas pequenas para entender se vão conseguir atuar no Brasil. Mas é cedo para comemorar. No mundo dos negócios, tem muito jogo de cena.

Com um modelo que só é rentável por causa da corrupção, algumas empreiteiras ficaram numa situação delicada depois que o crédito secou por causa da Lava Jato.

Essas empresas sinalizam que vão vender o que puderem para pagar dívidas. Mas será que colocaram efetivamente na prateleira ativos valiosos com as concessões de Viracopos e Guarulhos? Ou estão só pressionando o governo e acalmando os credores?

Já a Petrobras baniu de novas licitações as empreiteiras envolvidas no cartel. A medida é bem-vinda, mas acontece quando o caixa está estrangulado e os investimentos foram postergados. Será que essas empresas continuarão excluídas das grandes obras da estatal? Ou ela está apenas dando uma satisfação para a opinião pública e para os órgãos reguladores no Brasil e no exterior?

E mais importante: qual a chance concreta dessas empreiteiras serem consideradas inidôneas e proibidas de participar de obras públicas? Isso sim ajudaria a moralizar todo o governo e não apenas a Petrobras.

O perigo é que tudo não passe de cortina de fumaça e que, na hora que a poeira abaixar, o jogo continue sendo de cartas marcadas, como sempre foi. A conferir.


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