Folha de S. Paulo


Câmara deve punir Wyllys por cuspe, mas resiste a criminalizar homofobia

Alan Marques/Folhapress
O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) durante discurso contra o relatório do deputado Ricardo Izar (PP-SP), no plenário da Câmara dos Deputados
O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) em discurso contra o relatório do deputado Ricardo Izar (PP-SP)

BRASÍLIA - Salvo uma reviravolta, o Conselho de Ética da Câmara caminha para punir o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) pela cusparada que ele desferiu em Jair Bolsonaro (PSC-RJ) na sessão de votação do impeachment de Dilma Rousseff.

Um ato "torpe" segundo o relator, Ricardo Izar Jr. (PP-SP), que sugere suspensão do mandato por 120 dias e que diz ter sido o cuspe uma mácula ao "prestígio deste Parlamento".

O prestígio do Parlamento. Deixemos para falar disso outra hora.

Wyllys, que é homossexual assumido, alega que reagiu a provocações de Bolsonaro, que teria dirigido a ele predicados como "queima-rosca", "franguinha" e "veadinho".

Bolsonaro nega ter algum dia dirigido palavras homofóbicas contra Wyllys ou quem quer que seja.

O que não o impediu de, em sua fala no Conselho, se dirigir ironicamente a Glauber Braga (PSOL-RJ), que o olhava de cara feia: "Ele [Wyllys] vai gostar desse biquinho, com toda certeza. Está defendendo como se fosse marido e mulher"!

Há algumas décadas o racismo era fonte aberta de piadas no Brasil. No popularíssimo "Os Trapalhões", Didi vira e mexe fingia ser vítima de um blecaute com a chegada à cena do negro Mussum, fazendo rir adultos e crianças país afora, incluindo a que hoje escreve essas linhas.

Há 28 anos o racismo é crime no Brasil. Há pelo menos 11 anos o Congresso Nacional resiste a aprovar a criminalização da homofobia.

A bancada evangélica, entre outras, é contra sob o torpe argumento de que pastores podem ser presos ao pregar contra a homossexualidade. Independentemente da legítima liberdade religiosa, qualquer um que cometa racismo pode ir, merecidamente, para a cadeia. Mas discriminar gays parece poder.

Pelo menos publicamente o país deixou de ver graça nas piadas e atitudes racistas. Quando fizer o mesmo em relação à orientação sexual das pessoas, terá avançado bastante no tabuleiro da civilidade.


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