Folha de S. Paulo


A estratégia Dudu

Dudu foi o melhor em campo e já era assim antes de fazer o gol da vitória por 1 x 0 sobre o Botafogo. O craque do time é Gabriel Jesus, mas como Dudu é decisivo! Lembre-se do que fez nestes dois anos. Marcou os dois contra o Santos na decisão da Copa do Brasil, o do 1 x 0 sobre o Corinthians que encerrou o tabu do Pacaembu, o do clássico contra o São Paulo depois da queda de Marcelo Oliveira, o que ontem clareou a chance de título, que poderá vir até com empate na semana que vem.

Quando fez o gol da vitória sobre o Botafogo, Dudu atuava como ponta-de-lança, pelo centro. Substituiu Cleiton Xavier, o meia cuja escalação havia sido uma boa ideia de Cuca para enfrentar as duas linhas de quatro homens do Botafogo.

Convidado pelo programa Bola da Vez, da ESPN Brasil, a definir em uma palavra os técnicos dos quais foi auxiliar, Jair Ventura disse sobre Cuca: "Estrategista." Na visita ao Allianz Parque, Jair tentou fazer ele próprio a estratégia. Sem Bruno Silva, escalou Alemão na linha do meio-de-campo e deixou Émerson na lateral direita para marcar Dudu.

Quem julgou que haveria três zagueiros, no anúncio da escalação botafoguense, enganou-se. Como todas as pessoas que assistiram às últimas partidas do Botafogo, o técnico do Palmeiras sabia que seriam duas linhas de quatro homens.

Cuca tem uma frase sobre o momento em que um treinador troca o adjetivo "bom" por "ótimo." É quando se antecipa ao que seu adversário fará.

Cuca é ótimo e por isso escalou Cleiton Xavier, que poderia atuar entre as duas linhas, atrás dos volantes. Era a maneira de quebrar o sistema defensivo do rival. Só não deu certo, porque Cleiton não foi bem.

Durante todo o primeiro tempo, o Palmeiras rodava a bola até que chegasse a Dudu, na esquerda. Faltava criatividade, sobravam passes longos e cruzamentos. Nos últimos dez minutos da primeira etapa, os desarmes
do Botafogo transformaram-se em contra-ataques. O zagueiro Carli teve chance de fazer 1 x 0

Só quem não conhece a alma do velho Parque Antarctica é capaz de reclamar do jogo sem criação nestas horas. Há duas semanas, Paulo Bonfá estava presente em Palmeiras x Internacional e explicou em uma frase a sensação da arquibancada: "Se tivesse uma faca, eu cortaria o ar."

A tensão é o sentimento normal de um povo que viu escapar pelos dedos o título de 2009 nas últimas oito rodadas. Sofreu com a eliminação na semifinal da Copa Sul-Americana, depois de vencer o Goiás em Goiânia e abrir 1 x 0 no Pacaembu. Ou dos torcedores mais velhos, que se lembram de frustrações contra XV de Jaú, Inter de Limeira e Ferroviária...

Só há um jeito de libertar uma torcida de suas más recordações: vencer.

Ontem, também se cortaria o ar com uma faca até os 17 minutos do segundo tempo. À medida em que o Botafogo se julgou capaz de fazer o gol, Cuca puxou Dudu para a função de Cleiton, depois da entrada de Alecsandro.

O segundo turno foi dos gols de bola parada. Os últimos dois jogos foram dos contra-ataques. Exatamente a mesma jogada do gol contra o Atlético, repetiu-se com Dudu lançando Gabriel Jesus. Desta vez, o craque do time perdeu a finalização e retribuiu o passe para Dudu decidir. De novo!

AJUDA CELESTE

Dorival Júnior mudou o sistema e fez um 4-1-4-1 depois da saída do zagueiro Noguera. O time respondeu e Ricardo Oliveira foi brilhante. É de novo artilheiro do time. Seria inédito no Brasileiro ganhar sete seguidas. O Santos fez mais do que pôde.

É HOJE

O Inter pode ficar mais perto do rebaixamento, mas o Corinthians tem de afundá-lo, porque precisa vencer para se manter próximo ao Atlético-PR. Pela qualidade do futebol, é impossível pensar no Corinthians na Libertadores. A matemática permite.


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