Folha de S. Paulo


O ídolo

Lugano jogará a Copa Libertadores pelo São Paulo. A espera para definir o novo contrato existe apenas para não configurar assédio antes de seis meses para o fim do vínculo com o Cerro Porteño. O avanço da negociação deve acontecer a partir de terça-feira (5).

Lugano no São Paulo está na pauta desde quando Carlos Miguel Aidar ainda estava no comando. Amigos do ex-presidente chegaram a espalhar a notícia de que Aidar já havia assinado o contrato com o zagueiro campeão mundial em 2005. Não foi assim.

Mas Aidar queria.

A direção atual resistia.

E mesmo Lugano não tinha certeza de que seu melhor caminho seria voltar dez anos depois ao clube onde foi ídolo, porque o futebol na memória dos são-paulinos não será igual ao que poderá apresentar aos 35 anos.

A resistência à ideia no São Paulo diminuiu com a percepção de que o novo time não terá um líder e a única esperança para consolidar um dos garotos como referência é Rodrigo Caio. Nem titular absoluto ele é ainda.

A discussão sobre trazer ou não o novo velho zagueiro incluiu a importância de ter alguém capaz de indicar o caminho no vestiário. Mesmo que não jogue como antes, Lugano poderá liderar como sempre.

A vitória do sim sobre a contratação deu-se sob este argumento e sob a pressão da arquibancada, consolidada na festa de despedida de Rogério Ceni, em 11 de dezembro. A certeza de que o São Paulo hoje não tem um ídolo e que Lugano exerce esse papel na arquibancada é definitiva para trazê-lo de volta.

Tudo isso é parte do cardápio do clube que perdeu suas principais referências. Rogério Ceni aposentou-se, Muricy Ramalho está no Flamengo, Juvenal Juvêncio faleceu, Luís Fabiano foi para a China e o São Paulo precisa encontrar um novo trilho.

Quantas vezes você viu clubes em crise contratarem ídolos do passado para ter de volta seus melhores dias? Dunga voltou ao Inter em 1999 e só conseguiu livrá-lo do rebaixamento. O Corinthians trouxe Neto de volta e quase caiu em 1997. Edmundo voltou ao Vasco e foi rebaixado, em 2008. O Palmeiras durante anos recorreu a velhas fórmulas.

Às vezes dá certo. Romário foi campeão brasileiro pelo Vasco, Evair fez gol na final da Libertadores do Palmeiras, Robinho foi campeão da Copa do Brasil pelo Santos em 2010 e paulista em 2015.

Os casos que dão certo têm em comum a busca por um grande jogador, não só por um ídolo do passado.

O São Paulo vive seu mais delicado momento nos últimos 25 anos. Desde quando contratou Pablo Forlán como técnico e não se classificou na repescagem do Campeonato Paulista de 1990, não havia tanta dificuldade para ir ao mercado e contratar os jogadores certos para montar uma equipe capaz de brigar por todos os títulos.

Lugano poderá ser importante para transmitir conhecimento e liderança para os mais jovens, ensinar no vestiário o gosto por vencer e o ódio pela derrota. Ter fome é parte da formação de qualquer grande jogador. Mas ele não pode ser a bússola do Morumbi.

A direção precisa dar o norte. Significa escolher o estilo como a nova equipe vai jogar, contratar e formar o elenco para executá-lo. Por enquanto, essas missões estão entregues a um técnico que nunca trabalhou no Brasil e a um ídolo de dez anos atrás.


Endereço da página:

Links no texto: